Evitar aglomerações e grandes deslocamentos são motivos para a mudança de comportamento dos consumidores
A pandemia do novo Coronavírus fez com que os olhos dos consumidores se retornassem para o pequeno comércio e essa redescoberta dos mercadinhos de bairro foi tema para uma pesquisa da consultoria Kantar. Ela revelou que no primeiro trimestre de 2020, mais de dois milhões de lares passaram a comprar em pequenos varejos. A pesquisa informa que mais de 1,2 milhão incluiu os varejos tradicionais na rotina de compras e mais de 200 mil famílias passaram a frequentar supermercados perto de casa. Antes da pandemia, as compras se concentravam em atacarejos, de acordo com a Kantar.
Com o medo de contaminação pelo novo Coronavírus, muitos consumidores pararam de frequentar esses estabelecimentos. Entre os que começaram a apoiar os pequenos comércios locais, os principais motivos para essa adesão foram evitar aglomerações (60,2%), evitar grandes deslocamentos (59,6%) e procurar preços mais acessíveis (53,5%), segundo a pesquisa.
A dona de casa Celma Rodrigues conta que desde o início da pandemia só compra no mercadinho perto de casa por medo de aglomerações. “Eu sempre compreinasmercearias aqui perto de casa, com a pandemia eu cortei de vez a ideia de ir nesses hipermercados. Faço a minha lista e vou rapidamente, compro o que preciso e volto para casa”, explica.
Celma se percebe como uma apoiadora dos comércios locais, já que mora em um bairro pequeno de Goiânia e a maioria dos estabelecimentos são de pessoas que frequentam a mesma igreja. “Eu imagino que deve estar sendo difícil para todo mundo, então eu prefiro ajudar os pequenos comércios, vou no salão de uma conhecida, faço compras no mercadinho, vou à feira, compro produtos dos carros que passam vendendo sempre que posso”, conta.
Esse apoio foi sentido por Antônio Lellis, comerciante da região Noroeste de Goiânia, que ressalta a importância dessa adesão aos comércios locais. “No meu mercado só tem eu e um entregador, se o pessoal do meu próprio bairro não comprasse da gente, eu teria que fechar as portas,ficaria desempregado e ainda tiraria o sustento de um funcionário, então esse apoio se torna muito importante”, pontua.
O empresário explica ainda que no início da pandemia temeu ter de fechar as portas. “No começo todo mundo desesperou e começou a estocar comida e itens de limpeza, mas iam aos grandes supermercados e esqueciam dos pequenos empresários. Quando o pânico passou e fomos entendendo como enfrentar a pandemia, o pessoal repensou mais e voltou a fazer compras com mais calma” conta. Lellis, explica por fim, que a maioria dos clientes afirmam que tem medo de ir em grandes supermercados que estão sempre lotados e preferem ir aos supermercados perto de casa.
O presidente da Associação Goiana de Supermercados, Gilberto Soares, explica que com a instalação da pandemia, as pessoas pararam de comer fora e passaram a cozinhar mais em casa. “Desde o início da pandemia nós notamos que os consumidores passaram a visitar mais as próprias cozinhas de casa, o que não acontecia antes. Mais pessoas ficando em casa, crianças que não saíam para estudar, o aumento do trabalho em regime home office, e assim, passaram a visitar mais os supermercados perto de casa para evitar esses grandes deslocamentos”, afirma.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta alguns benefícios do apoio aos negócios locais, uma vez que ajuda a estabelecer um comércio mais justo, desde o pequeno agricultor até o restaurante da esquina, o que cria mais empregos e melhor distribui a renda. A entidade lista algumas vantagens de estimular a compra do pequeno negócio: promoção do desenvolvimento social; circulação local do dinheiro; benefícios no tráfego urbano, que além de contribuir para o meio ambiente reduzindo a emissão de gases poluentes, produz menos deslocamento pela cidade.
Governo Federal
Com a preocupação dos severos impactos econômicos, o Governo Federal tomou iniciativas para ajudar os pequenos empreendimentos a passarem por esse momento delicado. Entre essas iniciativas estão: o auxílio emergencial de R$ 600,00 para microempreendedores individuais e trabalhadores informais; expansão da linha de Créditos Pequenos Empresas do BNDES; a disponibilização da linha de crédito para o pagamento da folha salarial de pequenas e médias empresas; o Proger Urbano Capital de Giro, programa que promove geração de renda por meio da oferta de linhas de crédito com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT); acesso à linha de crédito vinculada ao Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) e a prorrogação dos pagamentos de tributos federais do Simples Nacional.