Em Coronavírus, Destaque, Economia, Notícias · 24 agosto 2020

Pandemia e alta do dólar, que favorece exportações, têm provocado aumento expressivo dos preços de alimentos em Goiás, como óleo de soja, arroz, carne, leite e derivados

Fonte: O Popular

A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus e alta do dólar desencadearam aumentos significativos no preço dos alimentos em Goiás nos últimos meses. Em julho, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o valor da cesta básica em Goiânia ficou em R$ 472,86, ou seja, 3,98% a mais que o mesmo mês do ano passado e o equivalente a 48,92% do salário mínimo. A Associação Goiana de Supermercados (Agos) aponta que os vilões da vez, que mais encareceram em Goiás, são o óleo de soja, o leite, o arroz e a carne bovina.

O presidente da Agos, Gilberto Soares da Silva, afirma que o item que mais está assustando os consumidores neste mês de agosto é o óleo de soja. Segundo ele, o preço da caixa, com 20 unidades de 900 ml passou de R$ 72,95 para R$ 120,00 em 30 dias, cerca de R$ 6,00 a unidade. “E também não tem oferta. A previsão é para setembro, por agora estamos trabalhando com o que tem no estoque apenas”, diz Gilberto, que também é dono do supermercado Ponto Final, em Goiânia.

Para ele, a explicação está no aumento da exportação de soja, motivado pela alta do dólar, fechado a R$ 5,57 na quinta-feira (20) – maior valor desde maio deste ano. “Exporta muita soja e esmaga muito grão para biodiesel, que tem como principal matéria-prima o óleo de soja. Isso é bom para o mercado externo, mas estrangula o interno”, explica.

Gilberto afirma que o mesmo ocorre com o arroz, cujo preço do fardo foi de R$ 94,00 no início do mês passado para R$ 148,00 agora, a depender da marca, segundo a Agos. “O produtor tem negociado com países que sequer importavam arroz do Brasil. Entre eles, o México, Peru e Venezuela. Daqui a pouco teremos que importar o produto que tem produção nacional, o que não faz sentido”, protesta.

De acordo com o presidente da associação, o preço de custo do pacote de arroz está girando em torno de R$ 25,00. “Mas ainda estamos vendendo a R$ 19,00, porque compramos com preço menor no mês passado. No entanto eu não estou comprando mais, porque senão eu acabo vendendo com prejuízo”, afirma.

Outro fator que influenciou nessas altas foi a crise do novo coronavírus. Gilberto avalia que o produtor ficou com receio do que estava por vir, o que acabou resultando em baixa produção e pouca oferta. Ao mesmo tempo, com as pessoas passando mais tempo em casa, principalmente devido às medidas de isolamento social e a suspensão das aulas presenciais, o consumo aumentou. “Além do pagamento do auxílio emergencial, que deu mais possibilidade de compra para o consumidor. O mercado é movido pela lei da oferta e da procura, se nós temos muito da última e pouco da primeira, automaticamente os preços sobem” explica.

O levantamento do Dieese mostrou que, só em Goiânia, o preço do leite variou 12,05% de junho para julho justamente devido à sua disponibilidade restrita no campo. O que, segundo o departamento, impactou também em todos os derivados lácteos. “É fato que o produtor de gado ficou com receio no início dessa crise e aí, junto com o aumento da carne, que já vinha subindo desde o ano passado, se soma agora a alta do leite”, afirma Gilberto.

Segundo a Agos, o preço do litro subiu de R$ 3,45 para R$ 4,95 de julho para agosto deste ano. Por outro lado a carne, que já registrava alta mesmo antes da pandemia, concentrou um aumento nos últimos meses, avalia o presidente. Para Paulo Roberto, que é sócio de Gilberto, o consumidor sentiu o impacto nos últimos dois meses. “Há 30 dias nós pagávamos R$ 13,80 ou R$ 14,00 no kg, agora já está entre R$ 15,30 e R$ 15,50”, afirma.

“Os produtores ficaram na dúvida se colocavam gado para engordar, se levavam para o confinamento ou não, até porque isso tem um custo. É preciso lembrar que a soja também aumentou, e ela serve para a ração desses animais. Acaba que hoje temos mais bois no pasto do que confinados, que é quando eles vão para o abate. Agora é que estão vendo que precisa colocar boi para engordar, porque a oferta está pouca. Nós do varejo estamos tendo dificuldade para encontrar nos frigoríficos, por exemplo, e quando achamos, está caro. No fim, nós acabamos repassando esse preço para o consumidor”, diz Paulo.

Para eles, a solução é que o governo coloque os estoques reguladores à venda ou aumente o valor da taxa de exportação. “Para regular o mercado e frear as exportações para não prejudicar tanto o mercado interno. Tendo em vista que é tudo cotado em dólar, que está nessa alta absurda, nós aguardamos que os governantes façam uma gestão para promover um equilíbrio melhor dos preços para o consumidor”, conclui Gilberto.

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