Medida da Prefeitura de Goiânia para tentar reduzir aglomerações no transporte coletivo sofre críticas de proprietários de supermercados, lotéricas e farmácias
Fonte: Opopular
A medida da Prefeitura de Goiânia em tentar aliviar o impacto no transporte coletivo da região metropolitana da flexibilização do isolamento social como política de combate à pandemia do novo coronavírus não está sendo aceita em parte do grupo de empresários que possuem o direito de abrir seus estabelecimentos. A proposta da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), acatada pelo prefeito Iris Rezende (MDB), de realizar um escalonamento no horário de abertura das atividades econômicas é vista como prejudicial para os setores de supermercado, loterias e farmácias.
O presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Gilberto Soares da Silva, afirma que passar a abrir às 9 horas seria uma ação impraticável para os empresários do ramo. “Seria um contrassenso, porque a maior parte dos supermercados possui padarias entre os seus serviços e não há sentido vender pão nesse horário. Por que as padarias podem abrir às 6 horas e a gente só poderia às 9 horas?”, indaga Silva. Ele diz ainda que a medida da Prefeitura poderia acarretar em demissões para o setor, embora os proprietários estejam tentando segurar os empregos. “Estamos dando a nossa colaboração neste momento, somos um serviço estritamente essencial”, considera.
Na última quinta-feira (23), o presidente da Agos esteve em reunião com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia (Sedetec) na qual se discutiu a imposição do escalonamento. “Fui bem taxativo de que é um contrassenso e que se tiver outros estudos que interferem no nosso segmento nós queremos ser chamados para conversar, o que não fizeram desta vez.” Desde que as medidas de isolamento foram implantadas, em meados de março, diversos supermercados têm iniciado o serviço a partir das 6 horas e outros às 7 horas, em que locais reservam este primeiro horário para o atendimento de pessoas apontadas como em grupos de risco da Covid-19.
Para os proprietários de estabelecimentos farmacêuticos, o problema também tem a relação com o horário mais avançado para a abertura. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Goiás (Sincofarma-GO), João Aguiar Neto, há diferença no horário de abertura entre as farmácias das regiões Sul e Central, em geral às 8 horas, e as demais da capital, às 7 horas. “Nas farmácias da periferia nós temos dois picos, um no começo da manhã e outro no final da tarde, isso porque é quando as pessoas passam para comprar os remédios, antes de ir ao trabalho.”
Assim, para Aguiar Neto, obrigar que todas as farmácias abram a partir das 8 horas será prejudicial para os estabelecimentos localizados nos bairros periféricos, que vão perder um dos horários de maior movimentação. “Tenho certeza de que temos de preservar as vidas, mas não vejo no que esse retardamento da abertura das farmácias ajudaria nisso. Pelo contrário, prejudicaria o consumidor da periferia, que mudaria a sua rotina e poderia ficar sem seu remédio no começo do dia e emergência não tem hora.” Segundo ele, esse público seria absorvido pelas farmácias que funcionam por 24 horas.
Mesmo com a possibilidade de fechar mais tarde, o presidente do Sincofarma-GO conta que isso não seria interessante para os proprietários destes estabelecimentos em bairros mais afastados. Segundo ele, o problema, neste caso, seria pela falta de segurança pública nestas avenidas, especialmente em horários com movimento já reduzido e tendo as farmácias como únicos locais abertos e, logo, sendo atrativos para assaltantes.
Essa também é a justificativa da vice-presidente do Sindicato dos Empresários Lotéricos do Estado de Goiás (Seloesgo), Gisana Yoshida, para quem as loterias ficariam menos tempo funcionando, especialmente aquelas localizadas em avenidas.
“Muda muito a nossa realidade. Quanto mais tarde abrir, mais filas vão ser feitas e aí vai ter aglomeração. As lotéricas que estão nas ruas não vão ficar abertas após às 18 horas, pois nós não somos bancos que têm segurança privada, controle de acesso, não podemos correr o risco”, avalia Gisana.
De acordo com a proposta de escalonamento feita pela CMTC, as loterias passariam a abrir após às 9 horas. “Para a gente, abrir mais cedo que o horário atual seria melhor. Os bancos já estão abrindo mais tarde e fechando mais cedo. Na segunda-feira vai ser pior, com as filas para os saques dos auxílios.”
Para o setor industrial, as mudanças nos horários de abertura não seriam prejudiciais. A diretora-executiva do Sindicato das Indústrias da Alimentação no Estado de Goiás (Siaeg), Denise Resende, já é natural que os estabelecimentos deste setor funcionem a partir das 7 horas, conforme deve ser a imposição.
Já o presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas no Estado de Goiás (Sindifargo), Marçal Henrique Soares, diz que haverá mudança na rotina, já que os estabelecimentos, normalmente, iniciam o turno da manhã às 6 horas.
“Mas essa mudança de uma hora não será um problema, temos que fazer nossa parte e colaborar”, afirma.
Decreto sairá até quarta-feira
A Prefeitura de Goiânia pretende publicar o decreto municipal com a imposição do escalonamento de horários para a abertura das empresas com permissão para funcionar a partir do decreto estadual 9.653, de 19 de abril, entre terça (28) e quarta-feira (29). A previsão é que a medida seja aplicada já no dia seguinte da publicação, que será feita em Diário Oficial. A proposta inicial, feita pela Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), foi repassada para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia (Sedetec), com a responsabilidade de fazer análise técnica e dialogar com os setores. A iniciativa foi bem aceita por empresários que ainda não possuem a liberação para funcionar, que chegaram a dizer que acatariam todas as determinações do escalonamento e que estão dispostos a auxiliar o Paço na realização desta política. A proposta também foi levada para a equipe de saúde que está no Comitê de Crise do Paço e a mesma realiza um estudo sobre algumas mudanças que podem auxiliar no escalonamento.
COMO VAI SER
Goiânia vai fazer escalonamento no horário de abertura das empresas
6h
Garis e Coletores
Postos de Combustíveis
Panificadoras
7h
Área de saúde
Indústrias alimentícias
Indústrias farmacêuticas/medicamentos
Construção Civil
8h
Domésticas
Faxineiras
Vigilantes
Porteiros
Zeladores
Farmácias, Drogarias
9h
Supermercados
Lojas de Produtos agropecuários
Lojas de Produtos veterinários
Hospitais e clínicas veterinárias
Demais comércios autorizados a funcionarem conforme o Decreto 9.633 de 13 de Março de 2020.
Agências lotéricas
10h
Bancos