Em Destaque, Notícias · 29 setembro 2020

Cuidar de um patrimônio duramente construído ao longo dos anos é uma tarefa que exige muita vigilância. Por isso, é necessário adotar medidas preventivas e contratar um seguro tecnicamente bem planejado

Por: Francisco Barros

Nos últimos quatro meses ao menos dois incêndios de grandes proporções atingiram supermercados em Goiás – em Aparecida de Goiânia e em Itaberaí. Os prejuízos foram milionários. E as imagens que reproduzimos desses incêndios não deixam margem a dúvidas. Baseado nessas experiências, o que é possível fazer para prevenir ou mitigar este tipo de ocorrência? A reportagem da Revista Supermercados conversou comespecialistas no assunto e entrevistou os proprietários dos dois supermercados atingidos. A situação que eles estão vivenciando é um alerta para o segmento sobre os acertos e os erros que são cometidos diante dessa questão.

A data de 10 de junho deste ano vai ficar marcada na vida do empresário Éder Batista de Azevedo, proprietário do Supermercado Super10, mas que ele gostaria de esquecer. Tanto é assim, que deletou todas as fotos do seu celular que havia registrado as cenas. Não é para menos. Na madrugada deste dia ele foi acordado com a notícia de que o depósito da sua loja estava pegando fogo. Mesmo as Viaturas do Corpo de Bombeiros tendo agido rápido (levaram 50 minutos para controlar as chamas e três horas no rescaldo) o estrago foi significativo e destruiu o galpão de 300 metros da sua única loja, situada no Setor Independência Mansões, em Aparecida de Goiânia.

A causa mais provável do incêndio, segundo o Corpo de Bombeiros,  pode ter sido um curto-circuito numa fiação do depósito. Só restou a Éder contabilizar os prejuízos e correr para colocar a loja em funcionamento. Ele estima uma perda de R$ 300 mil em mercadorias. Além do que, ficou cinco dias com a loja fechada para fazer uma reforma e abrir novamente as portas. Esta situação teve um complicador: o empresário não havia contratado seguro para este tipo de ocorrência.

Outro que passou pelo mesmo dissabor foi Wander Barbosa Silva, no Supermercado Rio das Pedras II, em Itaberaí, na noite de 3 de agosto, por volta das 23h. As chamas consumiram todas as mercadorias do depósito de cerca de 400 metros. As equipes de Bombeiros de Itaberaí e da Cidade de Goiás atuaram em conjunto para conter as chamas e até carros pipa particulares foram contratados, segundo revela Wander. Depois de mais de 12 horas de trabalho o trabalho foi encerrado.

Segundo Wander, os prejuízos foram orçados em torno de R$ 4 milhões, apenas de mercadorias. Ele recorda que a loja foi inaugurada há apenas cinco anos, portanto, era nova. Diferente do Super 10, a Rede de Supermercados Rio das Pedras tem seguro. Só que havia um detalhe na história: a cobertura contratada é a básica. Não vai arcar com todas as despesas. Não havia, por exemplo, entre as cláusulas os lucros cessantes, que cobriria o período em que a loja ficará fechada (só voltará a funcionar em novembro, quando será concluída a reforma).

Wander informa que já havia uma preocupação no Grupo Rio das Pedras, que está no mercado varejista desde 1982, com a manutenção preventiva da parte elétrica, que agora será reforçada. Ele comenta que as perícias realizadas, tanto pelo Corpo de Bombeiros, como pela seguradora Porto Seguro, não chegaram a uma conclusão sobre o que pode ter provocado o incêndio.  “Devemos ficar muito atentos, também, às cláusulas do seguro, para não ser surpreendidos no momento que a gente mais precisar dele”, reforça Wander.

Quais os cuidados  preventivos

que podem ser adotados?

Um incêndio pode ser algo extremamente destrutivo e perigoso. Nenhuma medida de segurança pode ser tratada de forma leviana, até porque, no caso de um supermercado, pode comprometer vidas e o patrimônio construído com muito trabalho, esforço e persistência.  A regra de ouro no caso é a prevenção. De fato, por mais que seja impossível anular por completo o risco de incêndio, existem formas de mitigar as chances de que acidentes mais graves ocorram. Basta adotar as medidas preventivas simples e eficazes.

Estatísticas afirmam que entre as principais causas de incêndios em supermercados está o curto-circuito. E entre os problemas mais comuns que ocasionam o curto-circuito estão a sobrecarga de energia nas tomadas, instalações incorretas ou falta de manutenção na parte elétrica. Portanto, é fundamental que adotar medidas preventivas. A base de tudo é a contratação de um profissional habilitado no CREA para elaborar o projeto com o correto dimensionamento dos circuitos necessários na loja.

O técnico em eletrotécnica Rômulo Gonçalves Pacheco, sócio-diretor da Prowatt Engenharia, especializada em engenharia elétrica, que atua no segmento desde 2010, inclusive com muitos clientes na área supermercadista, chama atenção para o fato de que o Brasil é um dos países com maior incidência no mundo de descargas atmosféricas. Resultado disso é que, em várias situações, tais fenômenos terminam por provocar incêndios e queima de equipamentos.

“Então sugerimos” – destaca Rômulo –“sempre para evitar danos e consequentes prejuízos a instalação de um sistema de proteção, ou seja, um SPDA , Sistema de Proteção Contra Descarga Atmosférica. Esse sistema consiste em um equipamento que recebe/capta a descarga atmosférica (descarga elétrica), e direciona/escoa para terra. Evitando assim possíveis queima de equipamentos  e/ou incêndios.”

No aspecto preventivo, o diretor da Prowatt Engenharia, informa que o Corpo de Bombeiros exige que a cada ano seja realizada manutenção preventiva nas instalações elétricas das lojas. Ele comenta que este trabalho  “consiste na verificação de funcionamento da Bomba de Incêndio, examinar e reapertar as conexões dos Cabos e Fios (Condutores) com Disjuntores, conexões de Condutores com Tomadas, conexões de Condutores com Barramentos e verificação visual e com equipamentos para avaliar possíveis anomalias por aquecimento.”

Rômulo também dá dicas sobre como proceder para evitar incêndios. Ele orienta “nunca instalar equipamento (aumentar quantidade de equipamentos ) ou substituir equipamentos por outro de maior potência sem que esteja previsto em projeto e sem a devida análise técnica e quando necessário adequação técnica das instalações.” E, finaliza, com um alerta: “Temos observado que em algumas situações substitui-se ou aumenta-se quantidade de equipamento sem a devida adequação das instalações, e isto tem provocado aquecimento dos condutores, queima de equipamentos e até incêndios.”

(BOX)

12 Dicas do Eng. José Margonari Jr.

para evitar incêndio na sua loja

O engenheiro José Margonari Jr. contabiliza quase duas décadas de atuação na construção e reforma de supermercados. Ele dirige a JR Engenharia, que desenvolve projetos em Goiás e no Tocantins. A partir dessa experiência ele compilou, com exclusividade para a Revista Supermercados, doze dicas que podem ser seguidas para evitar incêndios em lojas. “Creio que com essas dicas básicas podemos com certeza afirmar que o risco de incêndio na sua loja caia para quase zero”, afiança o engenheiro. Confira as dicas:

1. Realize manutenções periódicas nas instalações elétricas com um profissional da área;

2. Evite o famoso gato nas instalações, tais como instalações posteriores de equipamentos sem o devido dimensionamento do circuito;

3. Invista em materiais elétricos de qualidade e com certificação;

4. Faça sempre manutenção de seus equipamentos em redes credenciadas pelo fornecedor;

5. Não una vários equipamentos no mesmo circuito;

6.Tome muito cuidado com ventiladores nas áreas de depósito, sem a devida manutenção dos mesmos pode ocasionar travamento e curto na rede;

7. Mantenha seu depósito limpo, organizado de preferência em paletes e com uma distância mínima da iluminação e das eletrocalhas de pelo menos 1m;

8. Evite carregar celulares nas áreas de depósito;

9. Siga corretamente as instruções de armazenamento de produtos químicos;

10. Tome muito cuidado com a disposição no depósito de materiais combustíveis como álcool, não armazenando próximo a fontes de calor;

11. Faça inspeções regularmente para verificação do sistema de combate a incêndio;

12. Mantenha pelo menos 3 colaboradores por turno de trabalho que saiba manusear corretamente os extintores (peça orientação ao Corpo de Bombeiro).

Que tipo de seguro devo fazer

para proteger meu Supermercado?

Sabe aquele velho ditado? “O seguro morreu de velho”. Ele continua mais atual do que nunca. Quem deseja se prevenir, não pode se descuidar. O presidente da Agos, Gilberto Soares da Silva, com mais de três décadas de atuação no mercado, sabe da importância de  contratar um seguro para proteger o seu patrimônio. “Ter um seguro bem feito que proteja a loja, os funcionários e até os nossos clientes é a única maneira de dormir tranquilo, sem sobressaltos”, comenta o presidente.

Mas como fazer isso de maneira correta, sem incorrer em enganos na hora de contratar o tipo de seguro mais adequado para cada supermercadista? Quem responde a esta indagação é o corretor de seguros Hailton Costa, que é também professor da Escola Nacional de Seguros (ENS), Diretor de Comunicação do Sindicato dos Corretores de Seguros, Previdência Privada e Capitalização do Estado de Goiás (Sincor-GO) e consultor de seguros.

Para Hailton, o supermercadista deve buscar um profissional que possa orientá-lo tecnicamente na hora de contratar o seguro. Esse profissional é “um corretor de seguro profissional, devidamente habilitado pela Escola Nacional de Seguros e autorizado a trabalhar com a anuência da Superintendência Nacional de Seguros Privados (Susep).” Ele comenta que, se o empresário puder, é melhor evitar contratar o seguro numa agência bancária. Mas se isso não for possível, deve, ao menos, “se orientar no sentido de não contratar coberturas desnecessárias, subdimensionadas ou que tenha garantias em excesso.”

E por que o banco não é indicado? Hailton explica de forma didática, como convém a alguém que atua na área educacional: “O banco é especialista em vender produtos financeiros, voltados ao dinheiro, a investimentos, etc. Seguros são ferramentas de transferência de riscos e precisa ser tratado por quem conhece o assunto sob pena de o cliente pagar e não ter o produto adequado quando ocorrer um evento que justifique a utilização da apólice.”

Outra dúvida muito comum que o professor esclarece é quanto ao preço do seguro. O melhor é o mais barato? Muita gente pode até cair nessa tentação. Ele argumenta: “Eu gosto muito da metáfora que compara um contrato de seguro a uma garrafa de vinho e, como tal, se o preço for o principal critério de escolha, fatalmente o cliente (segurado) terá dor de cabeça quando for usar. Minha sugestão é que o cliente (segurado) deve negociar mesmo as condições de preço e cobertura, mas sem considerar o preço como item mais importante da escolha.”

Hailton também orienta sobre o que não pode faltar numa apólice na hora que um supermercadista for contratá-la. Para ele, deve constar na apólice “Todas as informações relacionadas ao risco. É importante deixar claro que a riqueza de detalhes, além de tornar o risco aceitável ao mercado segurador, representará um preço mais justo ao cliente (segurado).” Outro aspecto que deve ser considerado diz respeito a que “o seguro não isenta o cliente de tomar todas as providências necessárias à segurança do estabelecimento.”

E por que isso é importante? O corretor de seguros explica que, quando o supermercadista adota estas medidas de segurança, elas “podem representar uma redução nos custos de um contrato de seguro: circuito fechado de TV (CFTV), dispositivos de combate a incêndio, cofre para a guarda de valores, sangria periódicas dos caixas, alarme, controle de estoques, etc. cofre boca de lobo (ou alçapão), evitar que altos valores fiquem guardados no interior do estabelecimento ou que sejam transportados por pessoas sem o devido preparo ao banco.”

Hailton explica que o contrato de seguros pode ser “modulado conforme as necessidades específicas de cada cliente.” Existem no mercado produtos que são perfeitamente modulados para atender desde um cliente de um pequeno supermercado, com uma única loja, ou até mesmo grandes redes de supermercados com várias lojas. “É possível ainda” – argumenta – “a conjugação de coberturas que podem tornar uma apólice de seguro altamente funcional, proporcionando coberturas adequadas ao empresário que poderá, dependendo da necessidade usar serviços emergenciais como chaveiro, eletricista, encanador, entre outros.”

Quais as coberturas que não podem faltar de maneira alguma numa apólice de seguro de um supermercadista? O consultor de seguro não titubeia ao destacar as seguintes: “a mais importante para um supermercado é a cobertura de incêndio, mas tem coberturas importantes como lucros cessantes, vendaval, danos elétricos, roubo (de mercadorias e/ou de valores), perda ou pagamento de aluguel, coberturas para responsabilidades civis (de terceiros contra o supermercado, de funcionários contra o supermercado), quebra de vidros, dentre outras”.

E para finalizar, ele ainda faz uma ressalva que o supermercadista deve levar em conta: “caso o empresário supermercadista tenha um período do ano que ele eleve consideravelmente seu estoque em função de comemorações como natal, carnaval, férias escolares, dentre outras, ele deve informar ao corretor de seguro para que isso conste na apólice, pois, em uma eventual utilização do seguro o empresário poderá ter uma desagradável surpresa.”

(Outro Box)

7 Dicas na Hora do Supermercadista

Contratar o Seguro

1 – Sempre que possível, contratar o seguro de um corretor de seguros especializado em seguros empresariais.

2 – Se possível, evitar a contratação do seguro do “gerente do banco”.

3 – No momento da contratação do seguro, fornecer todas as informações necessárias a melhor mensuração do risco.

4 – Não economizar em coberturas ou importância segurada.

5 – Conferir a proposta antes da assinatura final para ver se não faltou nada.

6 – Ficar atento a todas as alterações que a empresa sofre durante a vigência da apólice (ampliação do espaço físico, compra e instalação de máquinas, ampliação significativa do quadro de funcionários, aumento significativo, mesmo que sazonalmente, do estoque)

7 – Investir algum tempo e conferir a apólice.

(Fonte: Hailton Costa, corretor de seguros, Prof. da Escola Nacional de Seguros e Diretor de Comunicação do Sindicato dos Corretores de Seguros de Goiás- Sincor-GO)