Que se faça a luz! O Governo Federal decidiu que empresas que possuem o custo médio de energia elétrica de alta tensão a partir de 9 mil reais poderão procurar novos meios de fornecimento dessa necessidade. O grupo pode contemplar supermercadistas e outros varejistas à migrarem rumo ao Mercado Livre de Energia, um ambiente de venda, onde é permitido a escolha do fornecedor, a negociação do custo da operação e a sua forma de pagamento.
“Existem mais de 500 comercializadoras convencionais de energia para consumidores de maior porte e quase 100 varejistas, para aqueles de menor porte, que podem apresentar novas opções para os interessados“, afirma Carlos Aparecido Ferreira, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UERJ.
Até o final de 2023, as empresas fora dessas condições precisavam se submeter ao mercado regulado ou mercado cativo, onde a compra da energia era apenas com a distribuidora local. Apenas os consumidores com a demanda de no mínimo 500 kilowatts podiam participar do mercado livre.
“A partir de 2024, todos os consumidores que estiverem ligados em alta tensão poderão ser ‘livres’, independentemente da demanda contratada. Antes, precisavam consumir um mínimo para ser livre, agora basta estarem conectados na alta tensão que são elegíveis a ser livre”, afirmou a administradora Daniela Alcaro, sócia da Stima Energia, empresa comercializadora de energia, em resposta à Agência Brasil.
Segundo estimativas apresentadas pela Stima Energia, são cerca de 200 mil unidades conectadas em alta tensão, sendo 37 mil livres, as maiores e que já estavam migrando desde 2001 como fábricas de aço e vidros. Os demais presentes no mercado regulado, parte dele preferiu caminhar rumo a energia solar e a compra da geração distribuída.
“Caso os consumidores optem por escolher de quem comprar sua energia, têm a oportunidade de negociar valores, prazos, o tipo da fonte (como renovável) etc. A boa notícia é que é possível obter reduções de 10 a 20% dos gastos com energia elétrica“, afirmou o professor Carlos Aparecido.
Atualmente, o mercado brasileiro de energia é dividido em duas partes. Os consumidores cativos estão no Ambiente de Contratação Regulada (ACR), que só é permitido a compra de energia de concessionárias de distribuição como a Light e a Enel. Nesse caso, o cliente paga somente a fatura de energia mensal, concentrando o serviço de distribuição e a geração de energia em um mesmo valor.
A outra parte é o Ambiente de Contratação Livre (ACL), onde estão os consumidores que exercem a escolha e podem comprar a energia diretamente dos geradores ou de comercializadores. Até a aprovação dessa medida, apenas empresas com o número mínimo de kilowatts gastos poderiam aderir a essa modalidade. O serviço de distribuição é pago pelo cliente por meio de uma fatura a uma concessionária local com tarifa regulada pelo governo, somadas a outras faturas com preços negociados ao consumo.
“Essa parte que encontrou uma alternativa (energia solar) para economizar talvez não se anime a migrar neste momento, mas há outro grupo que não foi por esse caminho e está muito interessado na migração. Eu diria que são 72 mil unidades”, disse Daniela sinalizando a necessidade da mudança dessas empresas para o mercado livre.
Crescimento no Varejo
O sócio da Stima Energia, Erico Mello revelou que esse setor começou a se movimentar a partir de 2001/2002, quando houve a migração de grandes clientes como a Vale, Votorantim e outros industriais. Desde 2008, cerca de 20% da carga nacional era atendida pelo mercado livre, e ano após ano são pontuados crescimentos constantes nesse volume.
“Até por causa das renováveis, em que se tem uma busca dos consumidores por contratos de longo prazo com geradores renováveis. Eles querem ter certeza de que estão comprando energia numa eólica, numa planta solar até de PCH, por exemplo, e por isso fazem contratos de longo prazo, buscando a energia renovável no mercado livre. Esse foi um dos fatores do crescimento do mercado nos últimos dez anos”, afirmou Erico Mello. O especialista faz um alerta, sobre a expansão para o mercado livre ser baseada nas energias limpas a partir de 2026.
Mas não apenas os industriais, o comércio varejista, em especial os super e hipermercados vem nessa ponta. Os estabelecimentos estão focados em economizar custos e a migração pode ser uma das grandes soluções ao custo alto de luz.
“A energia elétrica é um dos principais custos dentro de um supermercado. Iluminação do estabelecimento, caixas registradoras, maquinários, geladeiras e câmeras frigoríficas. A oportunidade de migração para o mercado livre dos clientes de alta tensão, a partir desse ano, deve ser analisada pelo supermercadista em conjunto com uma empresa especializada no setor elétrico. O processo de migração leva de 6 a 12 meses, portanto, o planejamento é muito importante”, afirmou William Figueiredo, economista da Future Tank e consultor da Asserj.
Expectativa do Governo Federal
A estimativa segundo o Ministério de Minas e Energia é de 100 mil novas empresas com contas mensais entre R$ 10 mil e R$ 60 mil, o que representaria uma redução de até 30% do custo de energia desses negócios. Empresas do varejo poderão focar investimentos em outras demandas como ações de sustentabilidade, após a economia com o custo da luz impactar positivamente o fluxo de caixa.
“Não precisa mais esperar um leilão do governo para fazer a compra. Pode construir porque vai ter realmente um comprador para a energia, pois existe liquidez no mercado”, disse Erico Mello, comparando o investidor com um produtor de soja ou de feijão que reconhece o preço do seu produto oferecido no mercado.
“De toda forma, o consumidor precisa se inteirar sobre o assunto, pois requer um maior protagonismo dos mesmos”, completa o professor Carlos Aparecido.
Fonte: Asserj