Em Destaque, Notícias · 24 janeiro 2024

Líder da Associação Brasileira de Supermercados, João Galassi acredita que 2024 será o ano da incorporação da IA em diferentes cadeias do setor e vê o Brasil à frente de outros países em termos de inovação no segmento

O ano do varejo supermercadista brasileiro começa, oficialmente, em Nova York. Já se tornou tradição, há mais de cinco anos, que executivos e líderes de grandes redes do País componham uma comitiva para participar do Retail’s Big Show, o maior evento de varejo do mundo, realizado pela National Retail Federation (NRF).

Essa excursão é promovida pela Associação Brasileira de Supermercados, que busca na feira e na conferência de Nova York alguns exemplos de como o uso da tecnologia pode simplificar processos logísticos e contribuir para um dos mais importantes setores de varejo do Brasil.

“É um momento de reunir o setor e, também, de passar uma mensagem sobre os novos desafios do ano”, resume João Galassi, presidente da Abras. Além da participação na programação da feira, os mais de 130 executivos e profissionais que compõem o grupo da NRF se encontrarão em um jantar, na noite de segunda-feira, 15, também para debater pontos que farão parte de sua agenda nos próximos meses.

Em conversa com a reportagem de Meio & Mensagem, Galassi explicou por que o Retail’s Big Show é importante para o varejo supermercadista nacional e sobre as formas como a inteligência artificial pode transformar consideravelmente todas as cadeias do segmento, desde o estoque até o pós-atendimento ao consumidor.

Importância da NRF para os supermercados brasileiros

“A NRF é um momento de confraternização para os supermercadistas, em que sempre passamos uma mensagem sobre os novos desafios do ano, como as expectativas de crescimento, de vendas. O evento é muito importante para o varejo mundial e, de certa forma, nos últimos anos, tem caminhado mais para discussões em trono do varejo alimentar. Apesar de a feira tratar do varejo em diferentes aspectos, percebemos essa maior atenção em relação aos alimentos nos últimos anos. Ali temos a oportunidade de ouvir desde o presidente da Levis até o presidente do Walmart. O espectro de informações que recebemos é muito amplo. E temos também a chance de fazer network com executivos de todos os tipos de varejo, além de estabelecer um contato mais próximo com empresas do setor financeiro.”

Inteligência Artificial nos supermercados

“A tecnologia é uma necessidade de todo o varejo e a NRF nos oferece a oportunidade de acessar expositores e startups, podemos conhecer ferramentas que estarão à disposição. Vejo que teremos uma discussão ampla e profunda sobre inteligência artificial. Tivemos algumas pinceladas sobre isso na edição da NRF do ano passado, mas este será o ano de impacto da IA nos processos. Na Abras, inclusive, já começamos esse debate porque é preciso estar atentos à forma como a IA pode distanciar, de forma muito efetiva, uma empresa dos concorrentes. Quem utilizar a IA com capacidade, profundidade e com sabedoria conseguirá uma diferenciação exponencial. Para isso, é preciso que o setor esteja bem assessorado e com acesso a empresas com a tecnologia embarcada.”

IA na prática

A NRF terá vários temas dedicados à aplicação prática de inteligência artificial nas áreas de segurança, eficiência operacional e nas ferramentas de relacionados com o consumidor. Vejo que a tecnologia pode impactar todos os processos internos, inclusive de áreas como Recursos Humanos, PDV e na forma de venda. Um exemplo prático disso é o fato de ainda termos um problema de gargalo nos caixas em períodos de muito movimento, como Natal e Black Friday. A tecnologia pode nos ajudar a solucionar isso de forma mais inteligente, bem como a de oferecer aos consumidores informações mais amplas sobre os produtos que eles estão comprando, diretamente nas lojas. O debate sobre IA já não é mais teórico: ele é prático, pois temos a possibilidade de ver como essas aplicações estão sendo feitas em empresas de todo o mundo.”

Negócios em 2024

“Todos os anos, a Abras apresenta uma pesquisa sobre o consumo nos lares brasileiros. No ano passado, nossa expectativa era de que o setor de supermercados registrasse crescimento de 2,5% e conseguimos alcançar a marca de 2,9%. Esperamos que, em 2024, essa mesma meta de crescimento se cumpra. No ano passado, o setor de supermercados investiu mais de R$ 30 bilhões novas lojas e reformas e empregamos mais de 3 milhões de colaboradores, de forma direta ou indireta. Como desafio para anos, temos, sobretudo, a questão de mão-de-obra e de contratações, que acaba nos impactando. Precisamos de mão-de-obra especializada e de estímulo 1ª formação de profissionais que possam atuar em todas as áreas da cadeia de supermercados.”

O modelo brasileiro

“O Brasil é inovador no varejo alimentar. Aprendemos a aperfeiçoar o setor com a vinda do Carrefour, nos anos 1970, e, de lá para cá, conseguimos fazer uma transformação, liderando o modelo com rápida compreensão do negócio. Tanto é que há formatos que o Brasil criou, como o atacarejo, que são modelos que só existem por aqui e que, agora, começou a ser testado na França. Aquele modelo de hipermercado, que veio exportado ao Brasil, está terminando seu ciclo.

Anteriormente, o Brasil tinha sete ou oito grandes multinacionais atuando por aqui, no setor de supermercados. Com o passar do tempo, elas foram se retirando e temos praticamente só três. São as redes brasileiras que conseguiram operar muito bem, com capacidade e competência. Outro ponto em que vejo que nosso varejo leva vantagem é na qualidade estética, visual e apresentação de serviços nas lojas. Nesse ponto, estamos à frente de companhias americanas e europeias. O setor brasileiro conseguiu entender muito bem o que é uma política de custo baixo e serviços e aplica isso de forma muito bem elaborada. Atualmente, 1250 empresas diferentes são responsáveis pelo faturamento de 70% do setor. Em vários outros países, o número é drasticamente inferior, por serem mercados bem concentrados.

O setor supermercadista do Brasil é uma joia rara, algo que precisa ser cuidado, porque somos geradores de empregos de qualidade e de altos salários. Quantos mais empresas temos atuando no setor, mais elas precisam de profissionais, em todas as áreas e em todos os níveis hierárquicos, o que gera uma qualidade de empregos extraordinária no País.”

Fonte: Meio & Mensagem