Impulsionado pelo leve aquecimento na economia e pelos saques do FGTS, o setor espera que o número de vagas entre setembro e dezembro fique em 570 mil este ano. Entidades apostam ainda em gastos maiores na Black Friday e nas festas de fim de ano, incluindo o Natal, que pode ser o melhor no varejo desde 2013.
Aos 18 anos, Carolina de Jesus teve o primeiro emprego de fato, com horário, tarefas e salário. Ela foi contratada por um mês, até o fim de dezembro, para trabalhar numa loja de um shopping de São Paulo, ajudando no caixa a vender agendas para 2020 e outros produtos de papelaria. Nesta quarta-feira, ela teve o primeiro dia no expediente, que vai ajudá-la a juntar dinheiro pra virar o ano na praia.
“Eu gosto disso porque me dá uma chance de eu conseguir aprender coisas diferentes do que eu estou acostumada. Então, no trabalho temporário, eu já vou ter essa experiência como caixa, e se outras vezes eu resolver trabalhar com isso, eu já vou saber mais ou menos como lidar com sistemas e todas as coisas de venda. Sem contar que o horário é ótimo. Como é um trabalho temporário, eles reduzem a carga horária, então, isso é muito bom”, diz Carolina.
A jovem é uma das 570 mil pessoas que a Associação Brasileira do Trabalho Temporário espera ver empregadas com esse tipo de contrato entre setembro e dezembro deste ano. São 70 mil a mais que no ano passado. Destas, 15%, ou 85 mil, devem ser efetivadas.
Há ainda uma peculiaridade nos temporários: a maioria é de mulheres. Isso porque decisões recentes do governo e da Justiça derrubaram a estabilidade para grávidas em contratos como esse. É o que explica o vice-presidente da associação, Marcos de Abreu:
“A maioria desses temporários é de uma faixa salarial de R$ 1.500, que são os atendentes de loja e vendedores de balcão. A média normal é de 27 anos, sendo que, nesse final de ano, a mão de obra feminina é superior em 10% à mão de obra masculina. Porque, no caso do trabalho temporário, elas se sujeitam ao regime contratual, e porque as lojas perderam o receio de contratar gestantes, uma vez que elas não geram estabilidade no regime de trabalho temporário.”
Como caixa, Carolina está entre as funções mais procuradas pelo comércio, no levantamento da Câmara Nacional dos Dirigentes Lojistas. O grupo de empresários se prepara para esse acréscimo nos temporários. O presidente da entidade, José Cesar da Costa, destaca que três a cada quatro novos contratados ficam dentro do ambiente das lojas e estoques. Os outros ficam na parte administrativa.
“O que a gente espera hoje seria 31% mais ou menos de vendedores, 26% de balconistas ou atendentes de lojas, 9% seriam motoristas, 6% seriam caixas e 4% seriam estoquistas. E o restante é muito variado. Aí tem várias contratações, isso aí pega um público muito aberto dependendo do setor. Estou falando no setor de comércio”, explica José Cesar da Costa.
O economista da Confederação Nacional do Comércio, Fabio Bentes, cita três fatores que impulsionaram resultados melhores que anos anteriores: a inflação estabilizada em um patamar baixo, a liberação recente dos saques do FGTS e os prazos maiores para parcelamento de produtos.
“O tamanho desse otimismo: a gente espera que em termos de volume de vendas, ou seja, faturamento do varejo descontado a inflação, haja um crescimento de 4,8% nas vendas de Natal este ano. Se confirmada essa nossa previsão, seria o melhor Natal do ponto de vista das vendas, do crescimento das vendas do varejo, desde 2013, portanto antes da recessão, quando as vendas no Natal cresceram 5%”, diz Bentes.
Com o otimismo no setor, a Confederação do Comércio prevê que a Black Friday deste ano movimente R$ 3,67 bilhões, o que seria o melhor resultado da década para a data.