
O anúncio do governo de considerar propostas do setor de varejo alimentar para conter a inflação trouxe um embate acirrado entre os segmentos de supermercados e farmácias. A discussão central é a proposta, da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), de permitir a venda de medicamentos isentos de prescrição médica (MIPs) em supermercados, que divide opiniões entre varejistas e profissionais de saúde.
O debate ficou ainda mais intenso quando Eugênio de Zagottis, acionista da RD Saúde, fez uma publicação no LinkedIn argumentando que os supermercados não têm estrutura para comercializar remédios de forma segura. “A medida teria efeito mínimo na redução da inflação e ainda aumentaria os gastos das redes supermercadistas”, afirmou. Em resposta, João Galassi, presidente da Abras, defendeu a proposta como uma maneira de ampliar o acesso a medicamentos em áreas com pouca cobertura farmacêutica. Ele afirma que, com supervisão e regulação adequadas, o modelo pode beneficiar milhões de brasileiros.
Custos
O custo de operação que a medida exigiria é um dos principais pontos de discordância. Para se adequar às regulamentações da Anvisa, os supermercados precisariam manter farmacêuticos em tempo integral, inviabilizando qualquer redução significativa nos preços, diz o acionista da RD Saúde. Já o presidente da Abras afirma que a maior concorrência no setor poderia estimular uma queda de preços, aliviando o bolso do consumidor em tempos de alta inflação.
Intoxicação
Alguns estudos mostram que até 15% do faturamento de redes tradicionais poderia ser impactado caso supermercados entrem no mercado de MIPs. Ainda existem as críticas de entidades como o Conselho Federal de Farmácia (CFF). Segundo o órgão, a liberação da venda de MIPs em supermercados pode agravar a já alarmante taxa de automedicação no Brasil, que atinge 90% da população. Dados do Conselho Federal de Farmácia indicam que, entre 1993 e 1995, quando os MIPs foram vendidos em supermercados, os casos de intoxicação aumentaram 23%. Após a mudança, os registros caíram 14%. Mesmo hoje, os remédios sem prescrição ainda são responsáveis por seis casos de intoxicação por dia no Brasil.
Fonte: Giro News