Em Destaque · 12 novembro 2021

Em mais um reflexo da escalada inflacionária, o comércio varejista voltou a apresentar queda em setembro na comparação com agosto. No país, a retração foi de 1,3%, enquanto em Minas o recuo foi ainda maior, chegando a 2,8%, aponta a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quinta-feira (11). No ano, contudo, o setor apresenta crescimento de 3,8% e, nos últimos 12 meses, a alta é de 3,9%.

De acordo com o levantamento, a atividade de maior peso na formação da taxa de setembro nacionalmente foi o de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com recuo de 1,5% em relação a agosto. Esse dado traz preocupação adicional, pois aponta que os efeitos da inflação chegaram na mesa do brasileiro, avalia a economista Mafalda Valente, da faculdade Promove. “As pessoas estão com menos dinheiro e cortando itens que não são tão essenciais. A carne é o exemplo mais claro porque teve um aumento de preço muito elevado esse ano. O produtor prefere exportar do que vender dentro do país”, diz.

Entre as oito atividades pesquisadas, seis apresentaram taxas negativas em setembro na comparação com agosto. As baixas mais intensas foram nos setores de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,6%), seguido de móveis e eletrodomésticos (-3,5%) e combustíveis e lubrificantes (-2,6%).

Na comparação com setembro de 2020, conforme o levantamento, o cenário é ainda mais preocupante, com recuo de 5,5% na atividade varejista. A maior queda veio do setor de móveis e eletrodomésticos, com recuo de 22,6%, seguido de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, que teve queda de 14,8%. Segundo Mafalda Valente, para fechar as contas, as famílias precisam elencar prioridades. “A queda nos setor de móveis segue a mesma lógica, pois são bens que pesam mais no orçamento familiar e que não são de necessidades urgentes. Com menos dinheiro disponível, as pessoas têm que escolher: ou comida ou trocar o sofá. E a preferência sempre é o básico, é a alimentação”, afirma.

Ainda na comparação com setembro de 2020, as demais categorias que apresentaram quedas foram: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-6,9%), combustíveis e lubrificantes (-4,0%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,7%), livros, jornais, revistas e papelaria (-3,4%) e tecidos, vestuário e calçados (-0,1%). O único setor a registrar taxa no campo positivo foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, com aumento de 4,3%.

Supermercado

Proprietário de um supermercado no bairro Prado, na região Oeste da capital, Gilson Lopes atribui o recuo nas vendas do comércio varejista, conforme apontado na pesquisa do IBGE, a basicamente três fatores: o fechamento de empresas, o desemprego e a inflação. Segundo ele, essa somatória sufoca o poder de compra do cliente. “A gente percebe de forma muito clara a queda nas vendas de produtos de maior valor agregado e naqueles que tiveram alta muito significativa, como a carne bovina. Hoje, vendo 30% menos carne do que no mesmo período do ano passado. Produtos mais sofisticados e elaborados, como alguns iogurtes especiais e salaminhos, também não saem mais como antes”, relata.

Para ele, o momento é delicado para o varejo, como mostra o levantamento do IBGE. “No início da pandemia, com o fechamento de outros tipos de estabelecimentos, o consumo se concentrou nos supermercados de forma geral. Agora, a crise chegou”, conta.

Gerente do local, Leal Lopes de Lima contou que testemunha diariamente a “dança das prioridades” dos clientes que passam pelo supermercado. “A gente percebe queda de vendas no geral, mas a carne é a principal. O pessoal começou a substituir, principalmente, por ovos e comprar mais as verduras da promoção”, conta.

Fonte: Hoje em Dia