Em Destaque · 07 novembro 2024
Suail Alcântara, da rede Store: mais difícil recrutar para açougue e padaria, que exigem preparo técnico (Fábio Lima)

Entidade do setor aponta que demanda afeta todos os setores, de operadores de check-out à repositores, passando por açougueiros e padeiros

Os supermercados estão entre os segmentos com maior dificuldade para contratação de trabalhadores. O presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Sirlei Antônio do Couto, diz que o problema é sério em todos setores, de operadores de check out a repositores, passando por açougueiros e padeiros, onde está a maior dificuldade. “Acredito que, na Grande Goiânia, temos cerca de 4 mil vagas aberta pelo setor supermercadista”, estima.

Ele avalia que os supermercados tenham entre 20% a 25% da sua mão de obra baseada no primeiro emprego, em cargos como reposição, embalagem e check out, sendo grandes formadores de mão de obra. Para Couto, vários fatores levam à escassez, como a política assistencialista dos governos, que faz o trabalhador rejeitar o registro em carteira para não perder benefícios. “Não acho que deveriam cortar, mas premiar quem tenha a carteira assinada. O governo, empresas e trabalhadores ganhariam”, sugere.

Outra dificuldade do setor supermercadista é que muita gente não quer trabalhar aos finais de semana. No fim do ano, as lojas precisam aumentar o quadro em cerca de 20%, além das vagas já abertas e, para atrair mais interessados, alguns supermercadistas já estão oferecendo benefícios como plano de saúde e odontológico e realizando treinamentos em áreas como padaria e açougue, que têm maior carência de pessoal e oferecem melhor rendimento.

Para tentar reduzir a dependência da mão de obra, os supermercados maiores estão investindo em equipamentos de self check out, o autoatendimento onde os clientes fazem os pagamentos sozinhos. “É o apoio da tecnologia, mas que não vai suprir a necessidade totalmente”, acredita Couto. Para ele, essa carência de mão de obra pode impedir a expansão das redes supermercadistas e o crescimento econômico como um todo.

O empresário Suail Alcântara, da rede Store, conta que tem vagas abertas para todas as 13 lojas. Segundo ele, não está fácil recrutar para todos os setores, principalmente para padaria e açougue, que são mais técnicos. “Uma grande dificuldade é a carga horária, pois o comércio trabalha de domingo a domingo. A conta não está fechando: vagas temos muitas, mas não tem pessoal disposto a ocupá-las” , comenta. Segundo ele, a empresa oferece vários benefícios, como plano de saúde e cesta básica mensal para colaboradores assíduos. “Para a maior parte das vagas, damos treinamento”, avisa.

Rotatividade

A rotatividade é outro problema, que implica em novos processos de recrutamento e de treinamento e envolve mais custos. Para Gilberto Soares, do supermercado Ponto Final, que está com 15 vagas abertas, o quadro está caótico. “Oferecemos treinamento e profissionalização, incluindo lanche e vale transporte, mas as pessoas não querem”, lamenta. A carência é ainda maior para funções em açougue e padaria. “O segmento de varejo alimentar tem crescido muito e temos uma falta de mão de obra enorme, por isso estamos treinando as pessoas dentro das lojas”, ressalta.

A loja oferece oportunidade, por exemplo, para jovens empacotadores se profissionalizarem em outras áreas, como açougue e padaria. Atualmente, 20% dos colaboradores são pessoas que estão no primeiro emprego e precisam ser treinadas para atenderem clientes que buscam novidades e atendimento personalizado. Ele acredita que, com a melhora do poder aquisitivo, as famílias estão oferecendo mais conforto aos jovens, o que desestimula o ingresso no mercado de trabalho. Outro problema apontado são os benefícios sociais do governo, que se tornou concorrente das empresas pela mão de obra.

A psicóloga organizacional e consultora de RH, com foco no setor supermercadista, Hellen Sampaio, atende quatro supermercados, que somam mais de 40 vagas abertas, o que criou uma situação preocupante para o final do ano. “Estamos nos esforçando para contratar, mas a empresa não consegue pagar salários exorbitantes”, afirma. Para ela, a falta de colaboradores impacta nos planos de abertura de novas lojas. “Um cliente abriu uma loja há cerca de um mês e contratou com salários acima da média e ajuda de custo. Mesmo assim, não conseguimos fechar todas as vagas”, relata a consultora.

“Muitos que são chamados nem avisam que não poderão ir à entrevista”, conta. Hoje, de 100 currículos, 40 são pré-selecionados, considerando a facilidade de deslocamento e a aptidão para o cargo. Destes, só 20 confirmam o interesse pela seleção, depois de se informarem sobre a carga horária e o salário. Dos 20, só 8 aparecem para entrevista e criam expectativa de um alto salário para função que nem sabem desenvolver ainda.

O diretor do Sine Goiânia, Fábio Lima, informa que os candidatos podem acessar diversos cursos gratuitos para qualificação profissional em áreas como vendas e administração, para inserir ou reinserir o trabalhador no mercado. O aluno ganha material didático, lanche e vale-transporte, mas nem todas as vagas são preenchidas. “Só uma empresa vai ofertar 300 vagas nesta semana, inclusive com home office”, anuncia.

Fonte: O Popular, por Lucia Monteiro, 02/11/2024