Em Destaque · 18 novembro 2021

Segundo levantamento da CNC, aumento de preços de produtos no atacado foi de 21,4% nos nove primeiros meses do ano, o dobro do reajuste de 10,5% nos preços ao consumidor

Os reajustes dos preços de produtos na porta de fábrica têm pressionado as margens de lucro do varejo em todos os segmentos do setor. Segundo os cálculos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o comércio repassou menos da metade do custo extra que teve com o aumento dos preços no atacado.

Enquanto o aumento dos preços ao consumidor foi de 10,5% nos nove primeiros meses do ano, a alta no atacado foi de 21,4%, mais que o dobro. O levantamento tem como base os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Os dez segmentos do varejo (ampliado) pesquisados pelo IBGE estão tendo que rachar essa alta de preços das mercadorias com o consumidor. Não tem demanda (que permita reajustes)”, justificou o economista Fabio Bentes, responsável pelo levantamento da CNC.

O cálculo considera os dados da inflação da indústria medida pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP) e a inflação de cada segmento do comércio varejista obtida pela Pesquisa Mensal de Comércio, levando em conta a diferença entre receita das vendas e volume vendido. Esses indicadores são apurados mensalmente pelo IBGE.

Até setembro, as maiores defasagens de repasse ao consumidor dos aumentos verificados neste ano no atacado estavam nos segmentos de livrarias e papelarias (alta de 24,7% no atacado e repasse de 3,6% ao consumidor); tecidos vestuário e calçados (alta de 19,3% no atacado e aumento de 5,1% ao consumidor); informática e comunicação (aumento de 6,2% no atacado e de 0,8% ao consumidor); e material de construção (avanço de 42,1% no atacado e de 15,9% ao consumidor).

As demais variações foram em móveis e eletrodomésticos (alta de 16,4% no atacado e 7,3% ao consumidor), artigos de uso pessoal e doméstico (17,0% no atacado e 8,0% ao consumidor), hipermercados e supermercados (14,0% no atacado e 5,7% ao consumidor), farmácias e perfumarias (11,1% no atacado e 3,8% ao consumidor), combustíveis e lubrificantes (49,7% no atacado e 35,4% ao consumidor) e veículos (13,2% no atacado e 11,7% ao consumidor).

Bentes afirma que o ano de 2022 será desafiador para o varejo, não apenas por causa das incertezas sobre a evolução das receitas do setor, mas também por causa das pressões de custos.

“Tem aumento da energia, pela crise hídrica, pela bandeira tarifária. Tem reajustes de combustíveis, que encarece o frete para o comércio. Tem a pressão da taxa cambial em ano eleitoral, que oscila mais e atrapalha a previsibilidade do varejo. Vai ser um ano bem cauteloso para o comércio varejista. Não vai ter mais a ajuda da retomada do fluxo de consumidores como teve em 2021. O consumo presencial já está praticamente normalizado”, afirmou o economista da CNC.

Fabio Bentes não espera trégua da inflação nos próximos meses para comerciantes, tampouco para consumidores, o que deve resultar em desaceleração nas vendas.

“A inflação está azedando as expectativas para a Black Friday e o Natal. Se está estragando o varejo no dia a dia, não tem como não chegar nessas datas comemorativas”, disse ele. “É uma inflação de custos, demora mais a reagir à política monetária do que a inflação de demanda. Isso é um problema para 2022, é essa característica da nossa inflação”, concluiu.

Fonte: terra