Em Destaque · 18 abril 2022

Elevação de preços foi de 52% e fez os consumidores comprarem menos café por vez e preferirem preço à marca

O preço do café torrado e moído subiu cerca de 52% em 2021 segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). E para não ficar sem o cafezinho de todas as manhãs, os consumidores deixaram de fazer estoques da bebida em casa e estão de olho nas promoções do varejo.

Para o diretor executivo da Abic, Celírio Inácio da Silva, esse aumento dos preços do café para a indústria é provocado pelos insumos. “A matéria-prima tem um peso que fica entre 60 e 70% da formação do preço, mas temos outros indicadores que contribuem como, por exemplo, a gasolina, a energia elétrica, o óleo diesel e custos com embalagem que contribuem diretamente com a formação do preço”, explicou.

O diretor da Abic também afirma que o grão cru de café sofreu um aumento de 155%. O preço saiu de R$ 415,50 em dezembro de 2020 para R$ 1.071 em dezembro de 2021. No mercado interno, o café Conilon teve um aumento de 107,9%. Já o arábica subiu 200% entre os consumidores nacionais.

Segundo a análise da Abic apresentada na primeira semana de abril deste ano, o café está entre os produtos do supermercado que mais tiveram elevação de preços no ano de 2021. O café torrado e moído teve um aumento de preço estimado em 52% nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

O consumidor

Com o preço do café torrado e moído mais caro, os consumidores estão buscando formas para conseguir manter o hábito de tomar café dentro do orçamento. “O consumidor sempre comprava café para ter um estoque em casa. Agora, com a última pesquisa que fizemos mês a mês aqui, esse aumento já foi introduzido na compra. O consumidor não está mais comprando dois ou três pacotes por uma determinada promoção. Ele está comprando aquilo que está consumindo. Está sendo mais cuidadoso porque o café começou a tomar um tamanho maior dentro da sua compra do mês e da semana”, disse Inácio.

E essa mudança já foi percebida por Antônio Donizete Rezende gerente de um supermercado de Varginha (MG). Ele disse que os consumidores estão comprando menos unidades do produto e que estão preferindo o menor preço em vez de uma marca “superior”. “Nós, que acompanhamos o consumidor todos os dias na loja, percebemos que ele está optando pela marca ‘preço’. A marca mesmo está ficando de lado. O consumidor está sentindo no bolso. A quantidade de cafés também diminuiu”, contou.

O gerente observou também que os consumidores de cafés diferenciados como o expresso, em grãos, solúvel e gourmet não mudaram seus comportamentos e ele não observou variação nas vendas desses segmentos. “Não cresceu, nem caiu, essas categorias mantiveram suas médias”, observou.

E o café tem sido o alvo de estratégias para atrair consumidores. Uma delas é buscar preços melhores. O gerente Antônio conta que o supermercado onde trabalha integra uma rede de 29 lojas espalhadas em 20 cidades do Sul de Minas e que possui uma marca própria de café. Essa seria uma vantagem que ajuda a segurar o preço do produto por mais tempo. “Nossos fornecedores das várias marcas de café vêm a cada quinzena com um preço novo. Como temos uma marca própria, conseguimos manter um preço menor até o final dos nossos estoques. Essa é uma estratégia que adotamos”, explicou.

Ele explica ainda que fechar acordos e reduzir margem de lucros para colocar uma determinada marca em promoção também é fundamental para atrair o consumidor.

A razão do aumento

Para o professor adjunto de Economia da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), João Marcos Caixeta Franco, o que motivou a elevação dos preços do café torrado e moído conforme aponta o Índices de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi a valorização do grão cru. “Os problemas climáticos como a seca no momento da florada e as geadas no estado de Minas Gerais, maior estado produtor, afetaram a produção e o estoque do produto”, disse.

Além das condições climáticas, os aspectos do mercado também afetaram o preço da saca do grão. “A valorização do dólar tornou bastante atrativa a venda externa levando os produtores a venderem mais produto ao exterior. Isso contribuiu para a diminuição da disponibilidade interna do produto e elevação dos preços”, explicou.

Sobre o futuro desses preços, João Marcos também acredita que não há previsão de baixa dos valores. “Esses preços vieram para ficar porque não vejo possibilidade de baixa dos preços. Os custos de produção já passaram de um patamar que não haverá retorno no curto e médio prazo”, garantiu.

O diretor executivo da Abic acredita que novos aumentos deverão ocorrer até o início da colheita dos grãos da safra 2022. “Todo início de safra tende-se a ter uma queda de preço. Não estamos tendo uma expectativa de queda e nem uma expectativa de subida. Acreditamos que até o início de junho os preços devam ficar dessa forma”, apostou.

O Sudeste

Ainda segundo os dados apresentados pela Abic, na região sudeste, o café extraforte teve um aumento de 33,6%. O preço do tradicional variou mais e chegou a 36,1%. Entre as categorias especiais, o aumento foi mais modesto: O preço do café superior (nota entre 6 até 7,2 pontos) subiu cerca de 18,4% e o gourmet (com nota acima de 7,3 pontos) 19,6%.

Fonte: G1