Segundo elas, combinação de fatores que têm elevado os valores dos dois produtos não deve desaparecer em breve
Representantes do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe) e da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), ouvidos pelo Valor, consideram difícil que preços de arroz e de feijão voltem ao mesmo patamar de antes da pandemia. Isso porque a combinação de fatores que têm elevado os preços dos dois produtos na mesa do brasileiro não deve desaparecer entre um mês e outro.
Além de problemas imprevisíveis, como clima errático, os produtores têm que lidar com aumento de custo de produção, devido à crise na economia causada por pandemia. Produtores do setor também notam ausência de políticas públicas, para elevar produtividade e áreas de cultivo – o que aumentaria a oferta, com possível impacto em redução de preços.
Ao comentar o aumento recente no preço do feijão, o presidente do Ibrafe, Marcelo Eduardo Lüders, explicou que, desde começo da pandemia, houve elevação de custo de produção em torno de 60% a 65% ao produtor da leguminosa. Isso representa altas de preços em combustíveis, em frete e em compra de defensivos, como fertilizantes, entre outros fatores.
Mas, segundo Lüders, a oferta de feijão conta com fatores estruturais que, mesmo sem pandemia, não estimulam aumento de produção. Ele comentou que a área plantada de feijão diminui, ano a ano, sendo substituída por outras culturas com preço mais convidativo ao produtor, como soja e milho.
No entendimento dele, falta informação ao produtor, como estimativas de preços futuros e dados detalhados sobre clima, para estimular maior área plantada para o produto. “Você está tendo um problema cada vez mais sério de oferta de feijão”, alertou. “Para mim, o feijão não é um produto. O feijão é uma causa social. Tire o feijão da mesa do consumidor e você tira a proteína mais barata da mesa do brasileiro”, afirmou.
Ele defende políticas públicas voltada para alimentos básicos, como o feijão, que contemplem investimentos em tecnologia e em informação – com foco em elevar produtividade, para aumentar oferta e reduzir preços. “Existe tecnologia de semente hoje capaz de produzir 70 sacos [de 60 quilos] por hectare. Hoje se produz 30 sacos por hectare no Brasil”, afirmou
Já o setor de arroz segue movimento semelhante de alta de preços, no atacado e no varejo, afirmou a diretora-executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Andressa Silva. Ela afirmou que, até agosto, a saca de arroz de 60 quilos era negociada a em torno de R$ 74. Esse valor leva em conta altas de custo na produção, no último ano, além de recomposição de perdas sofridas em quebras de safra anteriores. Em período pré-pandemia, o preço da saca de arroz era negociado por pouco mais da metade desse patamar, em torno de R$ 45 a R$ 50, acrescentou. “Não devemos voltar a esse preço pré-pandemia”, afirmou.
A executiva reconheceu que, com o preço mais caro no atacado, isso acaba afetando o preço no varejo. Antes da pandemia o quilo do arroz no varejo girava em torno de R$ 2 a R$ 3; hoje, está sendo negociado em média de R$ 4 a R$ 5 o quilo, nas prateleiras dos pontos de venda, junto ao consumidor.
Em setembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou, no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de agosto, que a produção nacional de feijão em 2021 ficará em 2,7 milhões de toneladas, 7,4% abaixo de 2020, com área colhida 0,5% menor ante ano passado. No caso de arroz em casca, a produção para 2021 é de 11,5 milhões, alta de 4,3% ante ano passado – quando estiagem intensa prejudicou produção do item. Porém, mesmo com essa elevação, a área plantada do arroz esse ano ficou 0,2% menor, ante 2020, segundo o IBGE.
Fonte: Valor Econômico