Valores do café (+50,2%), açúcar (+47,8%) e frango (+29,8%) foram os que mais dispararam. Ovos, carne bovina e tomate também tiveram alta. Por outro lado, preços do arroz e do feijão recuaram
Problemas climáticos e de oferta encareceram alguns itens do prato feito e do cafezinho do brasileiro em 2021.
Alguns dos alimentos que mais subiram foram frango, ovos, carne bovina, café, açúcar e tomate, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados na terça-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O óleo de soja, por sua vez, que dobrou de preço em 2020, desacelerou alta no ano passado. E, por outro lado, o feijão e o arroz registraram queda no valor ao consumidor – o arroz chegou a disparar 76% em 2020.
No geral, a inflação dos alimentos desacelerou, ao passar uma alta de 14,09% em 2020, para 7,94% no ano passado.
Ainda assim, o elevado nível de desemprego e a queda da renda comprometaram o orçamento brasileiro, que fez substituições por produtos mais em conta ou até mesmo reduziu a qualidade do seu prato.
Veja a seguir por que os alimentos subiram e as tendências para 2022:
Frango e Ovos
O frango em pedaços (+29,85%) e o ovo (+13,24%) são as proteínas animais que mais tiveram alta, puxados por uma maior procura do consumidor, após a carne bovina ter se tornado um produto de luxo no país.
Outro fator foi o aumento do preço do milho, diante da quebra de safra provocada por uma seca. O grão vira ração para as aves.
COMO DEVE FICAR:
Os preços da carne de frango e do ovo devem continuar elevados em 2022, refletindo ainda uma maior procura por proteínas mais baratas frente à carne bovina.
Outra pressão pode continuar vindo do preço do milho. Os baixos estoques e a demanda aquecida pelo grão podem limitar a possibilidade de quedas expressivas nas cotações, segundo um relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP).
Além disso, o governo diminuiu a projeção de colheita por causa da atual seca no Centro-Sul do país, segundo informou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na terça (11).
Carne bovina
No campo, o preço do boi bateu recordes em 2021, refletindo uma baixa disponibilidade de animais prontos para o abate. A elevação dos preços do milho e da soja também encareceram os custos com ração, enquanto a forte seca no Centro-Sul diminuiu área de pasto.
Curiosidade: líquido vermelho da carne não é sangue
A exportação também seguiu forte, puxada pela China, até o embargo do país asiático em setembro, que foi retirado em dezembro. A suspensão gerou até uma queda dos preços da carne no atacado em outubro e novembro, que não foi repassada ao consumidor pelos supermercados.
COMO DEVE FICAR:
O preço da carne bovina deve recuar, mas ainda vai se manter caro, “em um patamar ainda proibitivo aos consumidores”, disse o analista da consultoria Safras & Mercado Fernando Henrique Iglesias, em entrevista ao g1, em dezembro.
Um dos motivos para isso é que o dólar valorizado em relação ao real ainda mantém o Brasil muito centrado nas exportações. Outro fator é a renda do brasileiro, que não tem conseguido acompanhar os fortes aumentos de preço na economia.
Açúcar
A disparada do preço do açúcar foi resultado da combinação de uma seca prolongada e de geadas nos meses de julho e agosto, que provocaram uma redução da colheita da cana-de-açúcar.
COMO DEVE FICAR:
A tendência é de estabilidade de preços até março e depois de leve queda entre abril a julho, quando a safra entra no ápice, diz o analista Maurício Muruci, do Safras & Mercados.
“Mas a queda tende a ser muito moderada, sendo que, mesmo com uma oferta maior de cana, as usinas devem escoar a oferta de açúcar aos poucos no mercado, para não pressionar negativamente os preços”, afirma.
Café
A seca e as geadas também deixaram o cafezinho mais caro, em um ano de colheita que, naturalmente, já seria mais baixa (em ano par, a safra alta, e, em ano ímpar, baixa).
A redução da produção do Brasil, maior fornecedor global, provocou ainda aumento no preço internacional do grão.
COMO DEVE FICAR:
A planta de café não se recupera tão rápido de fortes choques climáticos e, por isso, o ano de colheita alta, previsto para 2022, não deve ser tão bom quanto o esperado.
Diante desse cenário, os preços do grão no campo devem se manter altos.
Tomate
Após ter disparado 52,7% no ano passado, o preço do tomate subiu mais 18,6% no ano passado. A principal razão é que a cultura vem sofrendo uma redução da área plantada nos últimos dois anos, segundo explicou o pesquisador João Paulo Deleo, Cepea-Esalq/USP, ao g1.
“No início da pandemia, o produtor sofreu um baque tremendo nas vendas com o fechamento dos restaurantes e ficou com receio de plantar”, disse.
Além disso, a cultura do tomate sofre muito com incidência de pragas e doenças, o que faz com que o produtor não consiga plantar na mesma terra durante um bom tempo.
COMO DEVE FICAR:
Para o Cepea, o cenário para tomate não deve mudar tanto em 2022 e, portanto, os preços devem se manter nos mesmos patamares deste ano.
Há uma expectativa de aumento de área plantada do tomate voltado para a produção industrial e, se houver algum excedente, pode ser que algo acabe indo para o mercado de mesa. “Mas a tendência é de preços similares a 2021”, afirmou Deleo.
Óleo de soja
O óleo de soja foi um dos vilões da inflação de 2020 e seu preço dobrou (+103%) naquele ano em relação a 2019, devido a uma forte exportação que diminuiu a oferta interna.
Em 2021, porém, o produto teve uma alta bem menor, de 4,16%, continuando, por outro lado, ainda caro ao consumidor.
O preço do óleo de soja é muito sensível ao comportamento da safra do grão e, no ano passado, diferentemente do milho, a colheita de soja não foi impactada tão fortemente pela seca, sendo inclusive recorde, o que favoreceu queda de preços.
COMO DEVE FICAR:
Com a próxima safra do grão do Brasil se encaminhando para um novo recorde e com boas expectativas de colheita em outros países, há espaço para uma queda de preços maior dos derivados do grão, como o óleo de soja.
Arroz
O arroz ficou 16,88% mais barato para o consumidor. Essa queda nos preços, na realidade, representou uma correção e um retorno para os parâmetros pré-pandemia, explicou a diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Andressa Silva.
Em 2020, houve uma alta de 76% do preço do produto por causa do aumento das exportações do grão. Contudo, no início de 2021, o setor acabou não embarcando tanto, pois a comercialização estava mais rentável internamente.
COMO DEVE FICAR:
Desde novembro, as exportações voltaram a tomar fôlego. Considerando isto, a diretora acredita que, em janeiro, o estoque de arroz brasileiro já não deve ser tão grande.
Ainda assim, o preço deve se manter estável, pois, em fevereiro, entra uma nova safra para ser considerada.
Feijão
Apesar de problemas na lavoura, como a seca, o preço do feijão carioca ao consumidor recuou por causa da baixa procura depois de o poder aquisitivo da população também declinar com a ausência do auxílio emergencial.
Além disso, o volume de feijão colhido em agosto, setembro e outubro foi o suficiente para abastecer o mercado até o fim do ano.
COMO DEVE FICAR:
Há expectativa de que o consumo de feijão aumente com a disponibilização do Auxílio Brasil para a população.
Por outro lado, o aumento do preço de insumos impactou a safra que é plantada em dezembro, o que pode ser sentido quando ela for comercializada.
Fonte: G1