Aumento da demanda após a disparada no preço das carnes e exportações são parte da explicação; quaresma deve pressionar ainda mais

O consumidor tem se surpreendido com o preço do ovo, que chegou a subir até 50% nas últimas semanas nas distribuidoras de Goiânia. Além do reajuste elevado, os atacadistas reclamam que estão recebendo volumes menores que os pedidos habituais feitos às granjas, o que indica uma maior escassez na oferta.
Entre os motivos, estão o aumento da demanda pelo produto, principalmente depois da disparada no preço das carnes, a proximidade do período da quaresma, que sempre aquece mais o mercado de ovos, e até aumento das exportações, por problemas de abastecimento em outros países em decorrência da gripe aviária.
Todos esses fatores também podem ter coincidido com um período de maior descarte de aves menos produtivas em algumas granjas. Até setembro do ano passado, o preço do ovo acumulava queda de cerca de 10%, o que fez o consumidor aumentar 27,1% no País. Com a maior demanda, o preço voltou a subir em outubro, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP, com novas altas em novembro e dezembro.
A gerente da Komatto Distribuidora de Ovos, Reinara Araújo Motobu, conta que o maior problema tem sido a redução do volume de pedidos que ela recebe das granjas. “Às vezes, peço 70 caixas e só me mandam 40. Eles alegam que o produto está em falta”, conta. Além disso, segundo ela, o preço tem subido toda semana. “Somente na semana passada, foram R$ 15 de aumento por caixa”, destaca.
Como a procura por ovos no mercado continua aquecida, a saída tem sido buscar o produto em outros fornecedores para atender a demanda dos clientes. Reinara Motobu ressalta que a Komatto atende vários pequenos comerciantes nas vendas por atacado e também comercializa ovos por assinatura no varejo, onde o cliente paga um determinado valor mensal para ter direito a uma quantidade de ovos para seu consumo próprio.
Compramos em mais de um fornecedor, mas a escassez está generalizada e todos estão em falta e entregando menos”, afirma a gerente. Uma estratégia, segundo ela, tem sido convencer os clientes a esperar mais pelo produto, enquanto a empresa procura por ovos frescos em outras granjas para conseguir atender todos os pedidos.
Marcos Café, presidente da Associação Goiana de Avicultura (AGA), lembra que a proximidade do carnaval e da quaresma já começam a elevar o número de pedidos e a pressionar a demanda e os preços no mercado. “O consumo já vinha aquecido e o preço do ovo demorou a reagir, mesmo após a alta das carnes no mercado”, explica. Além disso, segundo ele, também houve um aumento das exportações para países que enfrentam desabastecimento por conta de problemas como a influenza, o que reduz um pouco a oferta interna.
De acordo com o presidente da AGA, muitas granjas não estão conseguindo entregar todos os pedidos para seus clientes atacadistas justamente porque o mercado está muito aquecido no momento. Ele lembra este momento de grande demanda também pode coincidir com um período de maior descarte, um ciclo normal na avicultura, pois as aves começam a reduzir a produção a partir de 80 ou 100 semanas.
A expectativa, segundo Café, é que a proximidade com a quaresma deve continuar pressionando a demanda e os preços no mercado, na esteira do aumento das carnes. “Realmente é tudo acomodação de mercado. Não tem nenhum grande fator que esteja puxando esta alta, que acontece em todo mercado de proteínas, e o ovo faz parte dele”, ressalta.
Para Divino Eterno da Silva, proprietário Distribuidora de Ovos Santa Clara, o problema tem sido o desequilíbrio entre oferta e demanda. “Quando estava sobrando ovo no mercado, o preço baixou muito. Agora, as granjas reduziram o plantel, a produção caiu e a procura continua alta”, explica o empresário, que vende no atacado para estabelecimentos que são grandes consumidores, como restaurantes e panificadoras, mas também comercializa ovos no varejo.
Ele lembra que os custos também subiram, mas numa proporção menor. Enquanto isso, o preço da caixa passou de R$ 165 para R$ 215 nos últimos dias. “A cartela que vendíamos a R$ 10 ou R$ 11, hoje está R$ 15, uma alta de cerca de 50%”, destaca Divino Eterno, lembrando que a alta ocorreu em todo País. Os clientes até reclamam, mas continuam levando o produto, pois o preço da carne subiu muito e ajudou a aumentar o consumo de ovo.
Músculos
O empresário conta que tem clientes que comem até 30 ovos por dia para ganhar massa muscular e reclama da redução do volume de entregas. “Estamos até perdendo venda por falta de produto. Recebíamos 500 caixas todos os dias e, hoje, são 450”, ressalta.
Pelo menos por enquanto, a alta ainda está menor nos supermercados. O presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Sirlei do Couto, informa que os preços dos ovos subiram cerca de 18% desde a semana passada, mas as entregas estão regulares. “O consumo aumenta muito na quaresma, com a substituição da carne vermelha, e pode até faltar um pouco de produto, mas é raro”, garante.
Fonte: Lucia Monteiro – O Popular