Em Destaque · 09 novembro 2021

O preço da carne ao consumidor registrou uma queda de 0,78%, no mês de outubro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Apesar de interromper uma sequência de altas que já dura mais de um ano, a redução não compensa os custos acumulados para a carne, que no ano chegam a 11,57% e, em 12 meses, a 21,51%, segundo o mesmo índice.

O motivo é a decisão da China de manter o embargo à carne brasileira. As vendas para o maior comprador da produção brasileira em todo o mundo foram suspensas há mais de 60 dias, desde que foram identificados casos de animais contaminados com a doença da “vaca louca” no Brasil.

— A queda demorou, mas chegou para o consumidor. O reflexo demora um pouco para chegar na ponta. A questão é que estamos num acumulado do ano de 11,57% de aumento e, nos últimos dois anos, quase 40% de aumento para o consumidor. A queda é pequena e temporária, porque a hora em que essas exportações voltarem, os preços vão se estabilizar. A queda não vai chegar tão vigorosa. Além disso, por uma questão sazonal com a aproximação das festas de fim de ano, o consumo aumenta, o que pode sustentar o preço — destaca Guilherme Renato Caldo Moreira, coordenador do IPC/Fipe.

Embora a queda ao consumidor tenha sido discreta, no atacado e no campo já foram registradas quedas mais acentuadas. O preço do boi gordo passou de R$ 313 a arroba, em agosto, para R$ 264,60, até 5 de novembro. No atacado, a carne caiu 4,15%, entre setembro e outubro, de acordo com cálculos Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (USP).

O pesquisador do Cepea Thiago Bernardino de Carvalho explica que, além do armazenamento das carnes, o fim de ano também pode dificultar a queda dos preços no varejo. Segundo ele, se a carne continuar estocada, os custos para os frigoríficos aumentam. Para ele, a queda para o consumidor será pontual:

— A queda é um reflexo dessa maior estocagem. A realmente é um período com uma queda expressiva no campo, mas o varejo realmente não viu impacto do preço da carne — avalia Carvalho.

O pesquisador do Cepea ressalta ainda que, enquanto a indústria observava o enfraquecimento do mercado doméstico pela inflação, a redução da renda e o aumento do desemprego, os frigoríficos conseguiam comercializar a carne para a China com valores bem acima do preço cobrado no mercado interno. Isso, segundo ele, explica por que os frigoríficos estão preferindo manter o produto estocado e arcar com os custos, do que vender dentro do país.

Além dos frigoríficos, o Ministério da Agricultura também autorizou a estocagem da carne que seria destinada para a China em contêineres refrigerados pelo prazo de 60 dias. O pedido foi feito pelos produtores na esperança de voltarem a vender o produto a bons preços no mercado externo.

— Já houve sim uma redução no preço da carne, ainda muito modesta, frente aos aumentos que ela acumulou no curto prazo. A expectativa de ampliação na queda do preço se sustentava no embargo. É possível que a carne não caia tanto quanto o consumidor espera — observa o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre).

Além disso, para outras proteínas como o frango, o preço ainda está em elevação. De acordo com o dados do IPC/Fipe o frango registrou variação mensal em outubro de 1,26%. No ano, a ave acumula alta de 32,71% e, em 12 meses, o aumento chega a 39,57%.

Fonte: Extra