Em Destaque · 15 março 2023

Produto teve reajuste de cerca de 15% em relação ao ano passado, mas mercado goiano segue otimista quanto à expectativa de aumento nas vendas

O consumidor que não abre mão dos tradicionais ovos de chocolate na Páscoa vai pagar mais caro pelo produto este ano. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas, o chocolate aumentou 12%, em média, nos últimos doze meses, acima da inação dos alimentos e bem acima do índice geral de 4,5%.

Para evitar o impacto dos reajustes feitos pelas grandes marcas e alavancar as vendas, uma loja resolveu investir apenas numa produção de marca própria, que fez muito sucesso em 2022. Quem produz ovos caseiros, que conquistam uma fatia cada vez maior do mercado, garante que não está repassando todo o aumento para não afugentar a clientela.

Houve uma gradativa substituição dos tradicionais ovos por barras de chocolate ou caixas de bombom nos últimos anos, para fugir dos reajustes, tendência que deve continuar este ano. No ano passado, o preço médio do ovo de chocolate já havia subido de R$ 56 para R$ 65 no mercado brasileiro, o que afugentou muitos consumidores e levou muitos supermercados a desistirem de vender o produto, que acabou faltando no mercado.
Isso mostra que muita gente realmente não abre mão da tradição dos ovos de chocolate. Em 2023, o mercado goiano está otimista quanto às vendas para esta Páscoa. A fábrica goiana Di Anju deve produzir cerca de 80 toneladas do produto neste ano, em torno de 20% mais ovos de chocolate que no ano passado, mesmo com uma alta de quase 14% no preço do chocolate no atacado em relação ao ano passado.

Mas o proprietário, Divino Ismael Leite, conta que o que mais subiu foram as embalagens, que tiveram reajustes superiores a 18%. “Na média geral, o custo de produção aumentou cerca de 14,3% este ano. Até o custo do frete está impactando bem mais que antes”, destaca o empresário. Mesmo assim, ele garante que repassou apenas 12% sobre os preços praticados no ano passado e que as vendas estão muito aquecidas. Os ovos da marca goiana são vendidos em Goiás e vários outros estados. “A produção já está toda vendida e já chegamos até a recusar pedidos”, ressalta.

No ano passado, a loja Festa Radical fez um teste para comercializar também uma marca própria de ovos de chocolate, além das grandes marcas do mercado. O sucesso foi tão grande que, este ano, a empresa só venderá os produtos de sua marca própria, que teve a produção

dobrada de 1,5 para 3 toneladas, que serão vendidas por preços que vão de R$ 3,90 (20 gramas) a R$ 36,48 (270 gramas). A gerente Mariana Jaqueline Parents acredita que esta será uma boa Páscoa, pois a procura já está bastante aquecida. “O sucesso obtido com a marca própria no ano passado foi justamente por conta dos altos preços das marcas tradicionais”, arma a gerente.

A Cristal Festas vai comercializar as marcas Lacta, Nestlé, Garoto e Ferrero este ano, que devem chegar às prateleiras ainda nesta semana. Mas a gerente da loja, Passima Mendes, conta que os ovos e barras de chocolate no atacado tiveram uma alta de até 30% este ano. “Mas não vamos repassar todo este reajuste para não prejudicar as vendas”, garante. Segundo a gerente, muitos clientes já estão procurando barras de chocolate para a produção de ovos caseiros, mas se assustando com a alta nos preços.

“O mercado ainda está muito incerto com relação ao desempenho das vendas de ovos de marcas tradicionais porque eles perderam muito mercado para os produtos de fabricação caseira nos últimos anos”, arma Passima.

O supermercadista e vice-presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Gilberto Soares, conta que está muito conante e dobrou seu volume de pedidos de uma marca regional este ano, mesmo com uma alta de cerca de 13% nos preços. Isso porque, segundo ele, os supermercados perderam vendas na última Páscoa. Já as marcas grifes estão 15% mais caras.

“No caso destas marcas tradicionais, os fabricantes é que decidem que volume mandarão pra os supermercados, de acordo com o histórico de vendas dos últimos três anos”, explica. Mas as parreiras têm sido reduzidas a cada ano. “A nossa parreira, que tinha cerca de 10 metros, hoje tem pouco mais de 5 metros”, destaca.

Custo de produção reduz lucro na fabricação caseira de ovos de Páscoa

Os fabricantes de ovos de Páscoa caseiros se queixam das altas no custo de produção. A doceira Yana Araújo produz cerca de 100 ovos de Páscoa todos os anos, há cinco anos, para uma carteira de clientes xos. O preço da caixa com 10 quilos de chocolate subiu R$ 50 este ano, mas praticamente todos os demais insumos utilizados na produção caram mais caros, como leite condensado e leite em pó. Tantos aumentos obrigaram a doceira a cobrar entre R$ 5 e R$ 10 a mais pelos ovos que ela fabrica. Hoje, os preços variam de R$ 55 a R$ 120, de acordo com o recheio. “Tive de reduzir meu lucro e não repassei todos os aumentos para não perder vendas”, garante.

A também doceira Ludimilla da Silva Santos já começou uma espécie de marketing pré-Páscoa para divulgar os ovos de chocolate que venderá este ano. Ela organizou um catálogo com os produtos e fabricou ovos pequenos que já estão sendo vendidos para estimular os clientes a provarem a guloseima e fazerem seus pedidos de ovos grandes. A caixa com quatro unidades de 30 gramas sai por R$ 10. “Muita gente já gosta de comprar antes para experimentar”, destaca.

Ludimilla conta que os preços de várias matérias-primas, como o próprio chocolate, leite condensado e creme de leite subiram muito este ano e podem subir ainda mais até a Páscoa, por conta do aumento na demanda. Mesmo assim, a expectativa é vender mais que no ano passado. “Subimos nossos preços só em 5%. Resolvi repassar apenas uma pequena parte dos aumentos para não perder clientes”, justica a doceira. O ovo mais caro sairá por R$ 89.

Fabricante de doces há oito anos, Ingrid Farinha produz ovos de Páscoa há quatro anos. São quase mil unidades fabricadas anualmente, que vão de 50 a 400 gramas. Ingrid também reclama da alta nos preços de insumos como o chocolate em barra, que subiu cerca de 25% este ano, e de outros ingredientes, como o leite condensado e o creme de leite. “O quilo do chocolate, que era vendido por menos de R$ 38 no ano passado, hoje já custa R$ 45”, informa a doceira, que também garante não conseguir repassar todos os aumentos para não afugentar a clientela.

Fonte: O Popular