Mercado brasileiro acaba de entrar no top 10 global da multinacional que busca novos doces para os países tropicais
A indústria de alimentos tem se apoiado bastante no conceito de indulgência, quando o consumidor busca satisfação e conforto na comida, o que aumenta em tempos mais difíceis. Setores como o de chocolate crescem bastante baseados nesse comportamento.
Em 2020, durante a pandemia, a frequência de compra cresceu 9,3%, de acordo com pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), realizada pelo Instituto Kantar. Justamente se apoiando no conceito de conforto da comida que o Grupo Ferrero — nascido há exatos 80 anos na Itália — busca crescer no País e chegar a 15% dos lares. E considerando o segundo semestre agitado economicamente (inflação e desemprego ainda em dois dígitos), politicamente (eleições) e esportivamente (Copa do Mundo), o cenário é promissor.
A Ferrero inaugurou sua fábrica no Brasil em Poços de Caldas (MG) em 1997. Responsável pela produção das marcas Nutella, Kinder Chocolate, Rocher e partes do Tic Tac, ela produziu no último ano fiscal da empresa 28 mil toneladas, aumento de 25% comparado ao mesmo período anterior. Mais de 80% dessa produção é destinada ao mercado interno.
O crescimento nasceu de um investimento de mais de 80 milhões de euros realizado em 2014, destinado para compra de maquinário e expansão. Com isso, veio o crescimento de 50% no volume de vendas nos últimos dois anos. No primeiro semestre de 2022, a empresa já apresentava faturamento 30% maior em relação ao ano passado. Isso colocou o Brasil enre os dez maiores mercados da Ferrero no mundo.
Consolidada na terceira posição nos segmentos em que atua e com atuais 13% de mercado, a Ferrero enfrenta os mesmos desafios de toda a indústria — aumentos no custo de produção, alta do dólar e dificuldades econômicas do brasileiro, um pacote que também influencia as decisões da empresa.
Mas na contramão da estratégia de muitos fabricantes, a Ferrero não irá mudar sua receita, que é a mesma globalmente, ou reduzir o tamanho do Rocher. Na visão do CEO da empresa para a América do Sul, Max de Simone, a qualidade segue sendo o principal diferencial da marca e isso não vale o barateamento do produto. “Nossa estrutura não permite um produto barato. Permite um produto de alta qualidade a preço justo.”
EQUAÇÃO DE QUALIDADE
Para a especialista Simone Galante, CEO da Galunion, consultoria em foodservice, “o consumidor pensa em uma equação de valor: ‘O que eu estou pagando pelo que estou recebendo’”. Essa troca leva em conta a marca e aquilo que ela traz em sua bagagem, bem como a origem do alimento, a qualidade do produto.
Para manter essa, a solução é repassar para o consumidor o aumento de preço, em uma delicada equação, que Max de Simone chama de arte e na qual o resultado precisa permitir alcançar o maior número de pessoas e manter o crescimento da empresa.
No caso brasileiro, a complexidade aumenta — além da conhecida agenda político-econômica, fatores climáticos também influenciam. Com aproximadamente 300 mil pontos de venda, a distribuição de portfólio é desigual. Das quatro linhas de produtos (Ferrero, Kinder, Nutella e TicTac), as regiões Sul e Sudeste recebem 100% dos itens. O que não ocorre com o restante do País — por causa do clima, alguns itens deixam de ser comercializados. Renato Zanoni, responsável pelas operações comerciais no Brasil, diz que nesse sentido eles tomam algumas decisões que são teoricamente contrárias ao desenvolvimento do business. “Porque a gente acredita mesmo que a qualidade faz a diferença”, afirmou Zanoni.
Para solucionar esse entrave, a solução está no desenvolvimento de novos doces, pensados para países tropicais. A promessa é que entre setembro de 2022 e maio de 2023 novidades cheguem ao mercado. Com isso a receita fica pronta. Novos produtos, indulgência e marketing, que tornou a Nutella presença garantida na confeitaria e no carrinho dos sonhos do brasileiro.
Fonte:Lara San’tAnna, Isto É Dinheiro