Em Destaque · 13 fevereiro 2025

Instalar atividades para profissionalização pode garantir a perenidade do negócio

Independentemente do segmento na qual a empresa se enquadra, uma gestão ética, transparente e responsável exige a implementação da governança corporativa. Esse sistema define as diretrizes para a direção, o monitoramento e o desenvolvimento das organizações, garantindo maior eficiência e confiabilidade na administração empresarial. O varejo alimentar também pode se beneficiar desse conjunto de ações, normas e processos. E no setor de supermercados essa realidade não é diferente.

Vale lembrar que, à medida que a rede cresce e se expande, seja através da abertura de novas lojas ou aquisições de outras bandeiras, novos desafios costumam surgir, portanto as práticas de governança devem ser adaptadas para garantir que a empresa continue funcionando de forma eficiente e sustentável. Além disso, é importante que todos os membros da empresa – desde a alta direção até os colaboradores – compreendam a importância desse processo e se engajem na sua implementação.

Antes de a governança corporativa ser implementada ou aperfeiçoada é importante conhecer seus princípios fundamentais. De acordo com a versão 2023 do Código do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), os cinco pilares essenciais são:

  1. Integridade: praticar e promover o contínuo aprimoramento da cultura ética na organização, evitando decisões sob a influência de conflitos de interesses, mantendo a coerência entre discurso e ação e preservando a lealdade à organização e o cuidado com suas partes interessadas, com a sociedade em geral e com o meio ambiente.
  2. Transparência: disponibilizar informações verdadeiras, tempestivas, coerentes, claras e relevantes, sejam elas positivas ou negativas, e não apenas aquelas exigidas por leis ou regulamentos. Essas informações não devem restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os fatores ambiental, social e de governança.
  3. Responsabilização (Accountability): desempenhar as funções com diligência, independência e gerando valor sustentável em longo prazo, assumindo a responsabilidade pelas consequências de atos e omissões.
  4. Equidade: tratar todos os sócios e demais partes interessadas de maneira justa, levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas, como indivíduos ou coletivamente. Envolve senso de justiça, respeito, diversidade, inclusão, pluralismo e igualdade de direitos e oportunidades.
  5. Sustentabilidade: zelar pela viabilidade econômico-financeira da organização levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, natural, reputacional) no curto, médio e longo prazos. Compreender que as organizações atuam em uma relação de interdependência com os ecossistemas social, econômico e ambiental, fortalecendo seu protagonismo e suas responsabilidades perante a sociedade.

Supermercados: olhar para o futuro

Para implementar a governança corporativa existem algumas ações comuns a todas as empresas.

Entre elas, os cinco passos essenciais são:

  1. Definir a estrutura de governança: o ponto de partida é estabelecer quem são os responsáveis pelas decisões – conselheiros de administração, diretores, gerentes e gestores em geral – e como as informações vão fluir entre os níveis da organização.
  2. Definir Conselho Consultivo ou de Administração: o conselho é o órgão representante dos acionistas na empresa. É através dele que a vontade dos acionistas deve ser expressa, realizada e fiscalizada. Como fase inicial, sugere-se um conselho consultivo como uma espécie de “treinamento” para implantar a nova cultura da empresa. Após algum tempo, a troca para um conselho de administração com mais responsabilidades definidas é recomendável. Em empresas familiares, o ideal é que sempre haja conselheiros externos para trazer novos processos e ideias. A escolha desses conselheiros deve ser consensual e estabelecida via acordo de acionistas.
  3. Estabelecer acordos: eles podem ser entre acionistas e sócios, e servem para definir responsabilidades, direitos e respeitos mútuos, bem como compor processo decisório conjunto e de votação. Para empresas familiares, é muito importante definir o processo sucessório e a entrada e saída de membros da família na gestão da empresa, bem como a avaliação dos membros da família e executivos.
  4. Realizar diagnóstico: fazer uma análise atenta permite verificar em qual estágio a governança da empresa se encontra. É válido ter em mente que nem todas as empresas que passam pelo processo de profissionalização e gestão, sempre atendem as melhores práticas ou estão estruturadas de forma adequada.
  5. Introduzir ferramentas de avaliação: isso serve tanto para medir estratégias estabelecidas, táticas definidas e ações operacionais quanto para acompanhar e desenvolver os profissionais da gestão e governança nas capacidades que cada posição ou cargo requer para o seu desempenho.

Algumas métricas para avaliar se os pilares estão sendo bem conduzidos são os indicadores financeiros. Avaliar a saúde financeira do supermercado, como lucratividade, fluxo de caixa e rentabilidade, pode indicar se a governança financeira está funcionando.

Outro método convencional é a pesquisa de satisfação entre clientes e funcionários, que pode ajudar a medir a transparência e equidade da empresa. Além disso, realizar auditorias regulares garante que os processos sejam sendo seguidos corretamente e que as práticas de prestação de contas estejam em vigor. E, por fim, a análise de compliance mede o cumprimento de regulamentações legais e políticas internas, como as de segurança alimentar e sustentabilidade.

Entre os desafios que os supermercados e o varejo, em geral, têm apresentado em relação à governança corporativa estão os processos de sucessão em empresas familiares e a consequente resistência em membros da família em se afastarem da gestão e se dedicarem à estratégia. Outro fator que precisa urgentemente ser inerente à cultra dos supermercados é o entendimento de que práticas informais, sobretudo de administração, não são mais possíveis ou passaram a oferecer riscos altíssimos.

(FONTES: Jairo Procianoy, professor associado da Fundação Dom Cabral, e José Luíz Munhós, Mestre e Bacharel em Ciências Contábeis pela PUC-SP e docente da FIA Business School)

Fonte: SuperVarejo