Em Destaque · 19 maio 2022

Aumento dos preços já se faz sentir no bolso das famílias. Portugueses gastaram nos primeiros quatro meses do ano 3324 milhões de euros no retalho alimentar, mais 69 milhões (2,1%) do que em igual período de 2021. Mas em abril a subida foi de 5,7%

As famílias portuguesas começam a sentir os efeitos da inflação e os números das vendas de bens de grande consumo, vulgo vendas do retalho alimentar, vêm prová-lo. Nos primeiros quatro meses do ano, os portugueses deixaram 3324 milhões de euros nas idas aos supermercados, mais 2,1% do que em igual período do ano passado. Ou seja, mais 69 milhões. Mas a tendência de crescimento acelerou a partir de março.

Os dados são da NielsenIQ e mostram que, em termos de consumo, o ano começou em baixa, com as vendas de bens de grande consumo a caírem 1,1% em fevereiro, comparativamente a igual mês de 2021. A questão é que o efeito pandemia ainda se fez sentir muito nos números do início do ano passado, com o governo a decretar a obrigatoriedade do teletrabalho e o encerramento de todas as atividades não essenciais.

Este ano, com o regresso à normalidade, as famílias retomaram os seus consumos mais habituais, designadamente fora de casa. No entanto, a partir de março, os dados da Nielsen mostram que há uma tendência significativa de aumento dos gastos das famílias no retalho alimentar, com um crescimento de 3,7% em março e de 5,7% em abril. Números que traduzem já o efeito não só da guerra na Ucrânia, mas também do agravamento dos custos das matérias-primas, da energia e dos combustíveis, e do consequente aumento da inflação. Resumindo, os portugueses não estão necessariamente a comprar mais, estão a pagar mais pelo que compram.

O diretor-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição concorda, considerando que os números da Nielsen traduzem “um mix entre o efeito inflação e um comportamento mais cauteloso por parte dos consumidores, que já perceberam que há um conjunto de produtos que estão a sofrer uma grande pressão do ponto de vista da oferta e do crescimento do preço”.

Gonçalo Lobo Xavier lembra que a pressão sobre os preços das matérias-primas começou já no segundo semestre do ano passado, muito por efeito das subidas dos custos energéticos, dos combustíveis fósseis e dos cereais, o que levou os fornecedores das grandes superfícies a reverem as suas tabelas, no final do ano, com aumentos médios de 10 a 15%, com os cereais à cabeça.

Guerra acentuou tendência

“Têm sido meses bastante duros, sob o ponto de vista da pressão na cadeia de distribuição, sobretudo dos bens alimentares, e por muito equilíbrio e eficiência que se tente ter na logística e na compra, é difícil não transmitir isto para o consumidor. No entanto, as margens dos retalhistas continuam muito baixas, na ordem dos 2 a 3%, indicam vários estudos”, sublinha este responsável, lembrando que a distribuição é um negócio de volume.

O diretor-geral da APED antecipa, por isso, um ano de “muitos desafios”, mas admite que o arranque da campanha do tomate e de outras hortofrutícolas de produção nacional possa agora “ajudar a estabilizar” os preços.

Questionado sobre a evolução dos preços de venda ao público nos próximos meses, Gonçalo Lobo Xavier lembra que os estudos e relatórios apontavam para um aumento 30 a 35% dos bens alimentares até ao final do primeiro semestre. “Nalguns segmentos já se ultrapassou esse valor e já estamos a recuperar para níveis mais razoáveis com a diminuição dos [custos] dos fatores de produção”, diz, em referência ao setor das hortofrutícolas.

Dos gastos totais no supermercado das famílias, destaque para o agravamento dos gastos em mercearia e laticínios, que valem hoje 42,2% e 17,1% da fatura. É um aumento de 2,7 pontos percentuais face ao valor total gasto em produtos de mercearia em 2021 e de 0,5 pontos percentuais nos laticínios. Já o consumo de congelados e de bebidas alcoólicas está a cair, face ao ano passado.

Com o rendimento a cair e os preços a subir, as marcas da distribuição e de primeiro preço, as chamadas marcas brancas, estão a ser crescentemente procuradas, com um crescimento homólogo de 8,4% nos primeiros quatro meses do ano no global dos bens de grande consumo e de 8,8% no segmento alimentar. Em contrapartida, as marcas de fabricantes estão a cair 1,6% no total do mercado e 1% na alimentação. A quota, em valor, das chamadas marcas brancas é de 39,2% do mercado total (versus 36,9% há um ano) e de 45,2% nos produtos alimentares (42,9% no período homólogo).

A guerra na Ucrânia, a partir de 24 de fevereiro, veio apenas acentuar uma situação que já vinha de trás, e que foi agravada pelo “aumento brutal” dos preços de outros produtos, a montante, como os fertilizantes e outros componentes químicos. Mas Gonçalo Lobo Xavier sublinha que estes aumentos não se traduzem em crescimentos das margens das empresas de distribuição.

“Têm sido meses bastante duros, sob o ponto de vista da pressão na cadeia de distribuição, sobretudo dos bens alimentares, e por muito equilíbrio e eficiência que se tente ter na logística e na compra, é difícil não transmitir isto para o consumidor. No entanto, as margens dos retalhistas continuam muito baixas, na ordem dos 2 a 3%, indicam vários estudos”, sublinha este responsável, lembrando que a distribuição é um negócio de volume.

O diretor-geral da APED antecipa, por isso, um ano de “muitos desafios”, mas admite que o arranque da campanha do tomate e de outras hortofrutícolas de produção nacional possa agora “ajudar a estabilizar” os preços.

Questionado sobre a evolução dos preços de venda ao público nos próximos meses, Gonçalo Lobo Xavier lembra que os estudos e relatórios apontavam para um aumento 30 a 35% dos bens alimentares até ao final do primeiro semestre. “Nalguns segmentos já se ultrapassou esse valor e já estamos a recuperar para níveis mais razoáveis com a diminuição dos [custos] dos fatores de produção”, diz, em referência ao setor das hortofrutícolas.

Dos gastos totais no supermercado das famílias, destaque para o agravamento dos gastos em mercearia e laticínios, que valem hoje 42,2% e 17,1% da fatura. É um aumento de 2,7 pontos percentuais face ao valor total gasto em produtos de mercearia em 2021 e de 0,5 pontos percentuais nos laticínios. Já o consumo de congelados e de bebidas alcoólicas está a cair, face ao ano passado.

Com o rendimento a cair e os preços a subir, as marcas da distribuição e de primeiro preço, as chamadas marcas brancas, estão a ser crescentemente procuradas, com um crescimento homólogo de 8,4% nos primeiros quatro meses do ano no global dos bens de grande consumo e de 8,8% no segmento alimentar. Em contrapartida, as marcas de fabricantes estão a cair 1,6% no total do mercado e 1% na alimentação. A quota, em valor, das chamadas marcas brancas é de 39,2% do mercado total (versus 36,9% há um ano) e de 45,2% nos produtos alimentares (42,9% no período homólogo).

“O segmento da alimentação continua a ser uma prioridade para as famílias e há aqui um espaço para o crescimento das marcas da distribuição, que têm preços mais contidos e uma excelente relação de qualidade-preço”, frisa.

Fonte: Dinheiro Vivo