Em Destaque · 27 setembro 2021

A despeito de inflação elevada, comércio prepara estoque com previsão otimista de consumo no Natal e Ano-novo, em especial nos supermercados. Vacinação estimula

O avanço da campanha de vacinação contra a COVID-19 e a pressão menor dos principais indicadores da doença respiratória embalam as expectativas da indústria e do comércio para faturar durante as festas de fim de ano, a despeito da inflação elevada.

Reflexo de um cenário mais favorável, diante das restrições que afetaram a festa cristã no ano passado, as encomendas, agora, ganham ritmo, assim como as compras de produtos importados, vencendo a barreira do dólar alto. 

Nas redes de supermercados, as negociações de produtos sazonais começaram neste mês e se estenderão ao longo de outubro numa perspectiva de firme crescimento que orienta o planejamento das empresas.

O setor se beneficia, em dezembro, de dois grandes movimentos segundo  o diretor comercial e de marketing da rede supemercadista Mart Minas, Filipe Martins, observados nas lojas, primeiro com as compras para o Natal e, depois, a demanda motivada pela virada do ano.
Para a festa cristã, a procura se concentrada em aves natalinas, pernil suíno, cestas variadas, panetones, vinhos e chocolates. Voltada para a reveillon, a preferência é pelas cervejas, espumantes, outros destilados, taças, copos descartáveis e carnes para churrasco.

Projeção de crescimento de vendas da ordem de 20%, neste ano, demostra o otimistmo de Filipe Martins.

“Estamos otimistas com expansão comparado ao ano passado. Este ano, o cenário é bem diferente, com boa parte da população vacinada, as coisas estão voltando ao normal. No natal de 2020. tudo era muito incerto e o país estava atravessando um momento muito ruim da pandemia.

Os produtos importados exigem maior prazo e planejamento nos contratos, em especial no atendimento dos prestadores de serviços ligados ao entretenimento.

“O nosso modelo de negócio atende tanto o consumidor final quanto o pequeno comerciante. A retomada dos eventos, bares, restaurantes, é importante para o nosso negócio, vendemos no atacado para esse público”, destaca Filipe Martins.

O Mart Minas, terceira maior rede supermercadista de Minas Gerais e 11ª no ranking nacional, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), prevê abartura de 11 lojas em 2021, para chegar a um total de 51 unidades. Hoje, a rede opera com 46 lojas, no modelo de atacarejo. Para 2022, a meta é abrir outros 10 pontos de venda. 

Com boa expectativa também nas comemorações familiares, o grupo Super Nosso concluiu todo o planejamento da compra de importados, embora num ambiente de câmbio valorizado.

O diretor comercial da rede supermercadista, Edmilson Pereira, afirma que o varejo de alimentos tem apresentado forte expansão em 2021, o que ancora as projeções da empresa de vendas 25% a 30% maiores frente a 2020. 

“Em função do avanço das vacinações e queda dos índices da Covid, torcemos para que ocorram muitas festas de família. Como as pessoas não se reuniram ano passado, há boas expectativa nas comemorações familiares, o que deixa o varejo otimista”, observa o executivo.

Os itens mais procurados nos próximos meses são bebidas, carnes e bacalhau. Edmilson Pereira não vê motivo para temer escassez de produtos e promete novidades em cestas, kits especiais e vinhos.

Apostas – Considerada a principal data comemorativa do ano para o comércio varejista, o Natal impactou positivamente, no ano passado,  78,8% das empresas desse setor em Minas Gerais, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio MG).

O economista-chefe da entidade, Guilherme Almeida, lembra que “apesar do cenário de cautela, provocado pela pandemia de COVID-19, tradicionalmente o Natal é uma data relevante para todo o comércio. É nesse período que os empresários redobram suas apostas em diversas estratégias para atrair o consumidor e concretizar vendas.” 

No primeiro semestre de 2021, o comércio varejista de Belo Horizonte registrou crescimento de 4,63% nas vendas, frente ao período de janeiro a junho do ano passado.

De acordo com levantamento feito pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), o segundo trimestre do ano fechou com indicador de confiança em 55,3 pontos, bem superior à pontuação verificada entre janeiro e março, de 40,1. 

“Acabamos de promover a Semana do Brasil, que ajuda a movimentar o comércio em setembro. Ainda teremos pela frente o Dia das Crianças, a Black Friday (megaliquidação realizada em novembro) e Natal. Todas essas datas são extremamente importantes para o comércio. Para que elas sejam positivas, é imprescindível que, além do controle da inflação, haja geração de emprego, renda e a promoção de um cenário econômico seguro e com boas perspectivas”, comenta o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.

Inaugurações – Embora sem dados comparativos deste ano com o período atípico de 2020, a rede de livravias Leitura comunga das previsões da CDL-BH. “Neste ano esperamos superar as vendas de 2019 para o período”, revela o gerente de marketing da empresa, Eduardo Batista.

A rede começou sua trajetória em 1967 com uma pequena loja na tradicional Galeria do Ouvidor, no coração de Belo Horizonte. Hoje constitui a maior rede de livrarias do Brasil, com 87 unidades distribuidas em 20 estado e no Distrito Federal.

“A Leitura sempre foi uma empresa que trabalhou com os pés no chão e sem dívidas. Desde a crise de 2015, passamos a ter uma reserva financeira para momentos como este. A expectativa é de que o Natal seja um dos melhores dos últimos anos”, afirma Batista.

As lojas da empresa oferecem variedade de produtos, chegando a 100 mil itens entre livros, itens de papelaria, presentes, revistas, informática, filmes, música, games e jogos e contam com espaços de entretenimento como cafés, ambientes para leitura, sessões de autógrafos e eventos culturais.

“Estamos aproveitando as oportunidades do mercado para expansão. Neste ano, inauguramos 11 lojas e pretendemos inaugurar, pelo menos, mais quatro até o fim do ano, encerrando 2021 com 91 lojas”, diz o gerente.

Escassez de insumos dificulta produção

A pressão sobre a cadeia produtiva no Brasil, com fechamento total ou parcial em diversos campos da economia, devido à pandemia de COVID-19, ainda provoca reflexos no fornecimento de insumos e matéria-primas, para que o setor industrial possa suprir a demanda do comércio, aquecido pelas festas natalinas.

O ciclo de produção da indústria, para entrega em tempo hábil dos produtos ao comércio, se encerra pouco antes de novembro. No ano passado, a escassez empurrou esse prazo para dezembro, efeito que pode se repetir neste ano. 

Os setores de bens de consumo apresentam aumento de demanda, em fim de ano, o que deve continuar ocorrendo. Em 2020, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), houve produção um pouco mais forte no período, apesar de terem persistido problemas de estoque.

“Ainda sentimos uma série de heranças que afetaram a atividade industrial. Por mais que o país caminhe para o aumento da vacinação, há uma série de fatores que geram preocupações”, observa Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria – CNI.

Do lado da oferta, a indústria sente o desarranjo nas cadeias produtivas, no que se refere ao fornecimento de matérias-primas e insumos, o que continua dificultando o planejamento, a produtividade e toda a atividade industrial. 

O gerente da CNI diz que houve melhoria na comparação com o ano passado, com estoque um pouco melhor, mas abaixo do planejado. Do ponto de vista financeiro, essa herança é mais forte, com queda do faturamento, por período prolongado, prejudicando os investimentos. 

“Quanto às demandas, ainda há longo caminho para a imunização de toda a população e temos uma série de problemas subsequentes que persistem, como o subemprego, renda menor disponível no mercado, o que restringe as decisões relativas ao aumento da produção, além dos impactos nas cadeias de custos”, explica.

A expectativa que era positiva no ano passado se reverteu em negativa diante de aumento dos casos da COVID-19 e surgimento de novas variantes. Para este ano, o ambiente é mais positivo, segundo Marcelo Azevedo, e “melhor ainda para o ano de 2022 com ‘esperança’ da melhoria na renda da população e efetiva maior demanda.” 

Importados ganham com dólar e fraude

Projeções macroeconômicas divulgadas em agosto pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), representante de um dos ramos mais atingidos pela crise gerada na pandemia, apontam expansão do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país) de 5,21% neste ano. Comparada à queda de 4,1% em 2020, trata-se de um pequeno avanço. Para 2022, a projeção é de crescimento de 2,2%. 

O presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Costa integra a ala dos otimistas com 2021. “O setor fecha 2021 com 14% de crescimento em relação ao ano passado, que teve faturamento superior a R$ 7,7 bilhões”, afirma.

Costa diz que o setor só não está melhor porque convive com ambiente de sonegação de impostos no mercado interno, associado a subfaturamento das importações e importações fraudulentas. “Acontecem desembarques de importações ermos, há importadores com mais de 30 CNPJs, vinda de produtos sem inspeção de qualidade do Inmetro, um número de grande de irregularidades”, diz o presidente da Abrinq. 

Apesar dos problemas apontados, Costa vê a indústria nacional ocupando o espaço dos importados em 2021, com 75% do mercado de consumo. O quadro se deve às dificuldades dos fabricantes chineses, à disponibilidade de containers, insegurança provocada pelo dólar, além da epidemia de COVID-19.

Fonte: Estado de Minas