Em um cenário de inflação de dois dígitos, queda da renda e desemprego elevado, o atacarejo ganhou espaço entre os brasileiros e cresceu como nenhum outro formato do setor supermercadista no país, ao ponto de fechar o período de janeiro a março deste ano com alta de 21,1% nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado. O dado é de levantamento da NielsenIQ, consultora em inteligência de varejo.
Segundo a pesquisa, a região Sudeste do país, que inclui Minas Gerais, apresentou o segundo melhor desempenho do atacarejo, com crescimento de 25,9%. Para efeito de comparação, grandes supermercados venderam 7,8% a mais no mesmo intervalo, enquanto supermercados pequenos subiram 4,4% e hipermercados tiveram queda 6,8% em vendas.
A categoria, também batizada de carry & cash, é caracterizada pelo desconto progressivo: quanto maior a quantidade do mesmo produto, maior a redução no preço final.
Mudança de perfil
Vanderlei Junior, fundador das plataformas CotaBest – marketplaces que reúnem atacadistas e distribuidores que atendem empresas e pessoas físicas para cotação de preços e compras –, avalia que a partir da pandemia houve uma mudança no perfil e no comportamento de compras, o que garantiu um crescimento expressivo ao atacarejo.
Antigamente o atacado era ligado a empresas comprando volumes maiores; hoje o atacarejo ampliou o leque de consumidores, atendendo famílias por um preço menor pelo volume maior”, afirma.
Só neste primeiro trimestre, a plataforma registrou crescimento entre as compras de pessoas físicas de 20% e aumento de ticket médio entre 10 a 15% no país. De acordo com Vanderlei, as categorias de produtos mais vendidas para as famílias são produtos não-perecíveis e de primeira necessidade, como arroz, óleo, macarrão, mas também bebidas em geral e produtos de limpeza.
Para Filipe Martins, diretor de marketing e comercial da rede mineira de atacarejo Mart Minas, a busca por economia em um momento de crise econômica é o principal motivo por trás do boom da modalidade.
“A cada ano que passa novos clientes passam a comprar no atacarejo, mas em momento de bolso apertado é a escolha que faz mais sentido e que tem ganhado muito espaço por ser uma opção importante durante crises. Consumidores que costumavam comprar em supermercados estão migrando porque é uma opção até 15% mais barata”, afirma. Segundo o diretor, só neste primeiro trimestre, o MartMinas cresceu 25%, 5% a mais que no mesmo período de 2021.
Contas
A médica Maria Luiza Jabur dá preferência para compras de alimentos não-perecíveis e produtos de limpeza no atacarejo. “Faço compras aqui de 15 em 15 dias. Hoje deu R$ 629 e com o desconto do aplicativo foi para R$591; eu não pagaria menos que R$ 700 no supermercado que costumo comprar”, disse.
Segundo a médica, os valores mais econômicos são alcançados no volume das compras. “Você compra seis massas de tomate e paga cinco. Tudo acima de três unidades têm desconto, que varia, mas sempre é mais uma unidade”, relata.
Desde o ano passado, a dona de casa Erlane Ferreira migrou para o atacarejo próximo ao seu bairro. “Venho mais aqui que no supermercado porque está mais em conta, o que eu gasto mais como leite, café e detergente que sempre estão com preços bons e deixo para comprar daqui”, diz.
O microempreendedor Tiago Pinheiro é outro que aproveita para fazer as compras de casa e do seu negócio de delivery de marmitas. “Nos produtos que costumo comprar, como carnes e leite, estimo que eu consiga economizar até 25% na minha compra mensal do que em supermercados comuns”, conta.
Fonte: Hoje em Dia