Clima impacta valores e qualidade de produtos; abóbora cabotiá teve aumento de 186%, o maior registrado em um mês
A chuva acima da média tem impactado os preços dos alimentos em Goiás. Nas Centrais de Abastecimento (Ceasa-GO), grande parte dos produtos sofreu reajuste devido ao clima. Entre os destaques, a abóbora cabotiá teve incremento de 186%. O valor mais praticado do saco com 20 quilos passou de R$ 35 para R$ 100 de 17 de janeiro para a cotação desta quinta-feira (17). A menor oferta é a justificativa para os incrementos que chegam aos consumidores nas feiras e supermercados.
Conforme boletim agroclimático do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em janeiro as chuvas ultrapassaram o volume médio em vários estados, com destaque para Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Tocantins e parte da Bahia. Por isso, os cultivos de hortaliças foram impactados e agora elas ficam mais caras no varejo. Esse excesso de umidade acarretou perdas e afetou a qualidade de produtos como as folhosas.
De outro lado, nos estados do Sul, onde também há envio de mercadorias para abastecer os goianos, a escassez hídrica e as altas temperaturas predominaram e também trouxeram impactos. Se considerar aqueles produtos que têm maior peso no cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a inhação oficial do País –, os aumentos mais importantes encontrados na Ceasa-GO foram: cenoura (114%), melancia (100%), maçã fuji (35%), cebola (8%), tomate longa vida (8%) e mamão havaí (20%).
Fora da lista de maior peso para cálculo da inhação, chamam atenção também os incrementos da cereja (181%), da pinha (140%) e da beterraba (67%). De acordo com o gerente da divisão técnica da Ceasa-GO, Josué Lopes Siqueira, a alta generalizada é rehexo da dificuldade das produções desde o mês passado, quando ocorreram dias seguidos de chuvas intensas em decorrência da atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul. Mas ele garante que não há desabastecimento. “Enquanto perdurarem as chuvas, há instabilidade nos valores.”
“Quando há excesso de chuva, há incidência maior de doenças e pragas nas hortaliças e frutas, o que torna mais difícil o controle. As estradas vicinais ficam comprometidas, muitos produtores não conseguem escoar e tudo isso promove a diminuição da oferta, a procura se mantém elevada e isso faz aumentar o preço”, pontua o diretor de Assistência Técnica e Extensão Rural da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), Antelmo Teixeira Alves.
Ele explica ainda que há dificuldade de colheita e perdas na plantação. No caso da cenoura, explica que a umidade em excesso não permite atingir o ponto no tempo correto e a qualidade despenca. Por outro lado, como os ciclos são curtos, adverte que para as hortaliças é possível esperar o tempo firmar para nova safra de dois a três meses. Para as folhosas, explica que os valores podem oscilar ainda mais rápido, em torno de 45 dias é possível colher novamente.“Isso controla o mercado, mas é preciso que o tempo firme”, adverte ao citar repolho, que aumentou 50% na Ceasa neste mês, e a rúcula, que teve alta de 20%.
Mercado tem dificuldade para encontrar hortaliças em Goiás
Os supermercados têm encontrado dificuldade para encontrar hortaliças com qualidade para comercialização em Goiás, segundo informou nesta quinta- feira (17) o presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Gilberto Soares da Silva. “Há perda de produtos sem qualidade de aspecto comercial, como cenoura, repolho, brócolis. Houve dificuldade de buscar na lavoura pelo período chuvoso e isso onera os custos, além das altas como a dos combustíveis, que impacta severamente nas prateleiras.”
As promoções das “feiras” nos mercados estão mais raras. Ele explica que o aumento ocorrido foi muito grande para manter a programação de ofertas. “Ficamos sacrificados e há impacto desde as estradas ruins. Perde muita carga dentro dos caminhões atolados”, expõe. Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Feirante (Sindifeirante-GO), Wellington Mendanha também afirmou à reportagem que as perdas de hortaliças chegam a 30%.
“Isso vai se normalizar lá para o mês de abril, quando há melhor qualidade e quantidade, porque a chuva estraga muito. O feirante acaba tirando do próprio lucro, a margem cai para conseguir manter a comercialização. O que se pagava R$ 40 a caixa hoje está R$ 180”, exemplifica. Nas Centrais de Abastecimento (Ceasa-GO), o descarte de mercadorias por não ter “valor comercial” é questão que preocupa nesta época.
Porém, o gerente da divisão técnica da Ceasa-GO, Josué Lopes Siqueira, explica que há doação para banco de alimentos, com repasse para famílias e entidades cadastradas. “Neste momento, o banco também não tem uma situação boa, porque há uma baixa na oferta, que leva a pouca doação de produtos próprios para consumo humano.”
Fonte: O Popular