Em Destaque · 06 janeiro 2022

A forte alta do custo de produção levou os produtores a plantarem menos na última safra, o que reduziu a oferta da fruta e fez os preços dispararem no atacado e varejo

Um quilo ou uma dúzia de bananas já não são mais vendidos ‘à preço de banana’, como diz essa expressão popular. Além de estarmos no período de entressafra, a produção da fruta caiu na última safra e ela ficou mais escassa no mercado e bem mais cara para o consumidor no varejo. Um quilo ou uma dúzia de bananas já podem ser encontrados por até R$ 10 nas feiras livres e supermercados de Goiânia, o que tem assustado o comprador. Os feirantes dizem que reduziram as compras pela metade para não correr o       risco de sobrar produto na banca. 

Na Ceasa Goiás, a caixa com 15 quilos de banana maçã passou de R$ 95 no início de janeiro de 2021 para R$ 140 esta semana, uma alta de mais de 47%. “O preço nunca esteve tão alto assim. Nem macaco consegue mais comer banana”, brinca o feirante Natalino de Souza, que há 25 anos comercializa bananas nas feiras livres de Goiânia. Ele conta que a caixa da variedade prata, a mais vendida no mercado, já custa entre R$ 60 e R$ 80 no atacado, por isso hoje tem que comprar o mínimo possível para atender a clientela.

“Para a feira de hoje (ontem), comprei apenas cinco caixas. Antes, comprava uma média de 10 a 12 caixas”, lembra. Com isso, Natalino já precisa vender a dúzia de bananas por R$ 8, o que faz com que cada unidade saia por R$ 0,70 e tem provocado muita reclamação dos clientes. “Antes, eu vendia a dúzia por R$ 5 e ainda tinha lucro. Agora, mesmo com este preço bem mais alto, não estou ganhando quase nada”, garante o feirante.

Aguimar Antônio de Lima, que comercializa bananas das variedades maçã, prata, nanica e terra em feiras livres desde 1975, também garante que nunca viu preços tão altos assim. Com a caixa da banana maçã de primeira custando até R$ 140 (R$ 9,33 o quilo), ele conta que a saída para ter preços mais razoáveis tem sido comprar apenas o produto de segunda linha, que ainda pode ser encontrado por R$ 90 a caixa. 

“Os clientes estão reclamando muito do preço e hoje (ontem) praticamente não tinha banana para vender no mercado. Na Ceasa, tinha só uma quantidade pequena do produto de primeira linha”, ressaltou o feirante. Na tentativa de pagar menos, a saída também tem sido comprar o produto direto dos produtores, na roça mesmo, para evitar o gasto com atravessadores. “Mesmo assim, está mais difícil encontrar banana para comprar. Acredito que o preço só deve começar a cair a partir do fim de fevereiro”, prevê Aguimar, que também reduziu muito as compras para não sobrar produto na banca.

Custos Altos

Os altos preços dos insumos, como fertilizantes e defensivos, levaram os produtores a plantarem menos banana em 2021. Para piorar, a estiagem prolongada no ano passado reduziu a produtividade nas lavouras. O fruticultor goiano Edmar Cardoso de Oliveira, de Itaguari, conta que reduziu a produção em 30% por causa da alta no custo dos insumos. “Este ano, devo diminuir em mais 20%, ou seja, vou produzir apenas pela metade do que colhia antes”, avisa. 

O motivo, segundo ele, foi a alta no custo de produção, após fortes reajustes nos preços de vários insumos ao longo do ano passado. Edmar lembra que um mesmo defensivo que custava R$ 320 em novembro de 2020, hoje já sai por R$ 1.900. “O arrendamento de um pedaço de terra, que custava R$ 4 mil, hoje não sai por menos de R$ 10 mil. Sem falar no preço do diesel. Tudo ficou bem mais caro e inviabilizou a produção”, ressalta.

O produtor explica que o plantio da banana ocorre nos meses de outubro, novembro e dezembro para colheita quase um ano depois. Por isso, ele prevê que a escassez da fruta continuará ao longo deste ano e que o cenário só mude em 2023, quando a produção deve voltar a crescer motivada por esta atual elevação dos preços. “Todo mundo está plantando menos. Além do custo alto, também falta mão de obra”, afirma.

O gerente técnico da Ceasa Goiás, Josué Lopes, confirma que a oferta de bananas foi menor este ano. Ele lembra que esta é uma cultura que precisa de muita água para ter boa produtividade e que hoje enfrenta uma ressaca da estiagem de 2021. Por isso, o preço da caixa da banana maçã já bateu o recorde histórico na Central este ano. “Com isso, há uma transferência do consumo para outras variedades mais baratas. O feirante passou a comprar bem menos que antes e, mesmo assim, não consegue vender tudo com o quilo a R$ 9 no atacado”, destaca. 

Fonte: O Popular