O Brasil é o maior produtor do mundo de café, mas vende no mercado interno a preço de exportação, com a saca cotada pela Bolsa de Valores de Nova York
Um produto básico para milhões de brasileiros atingiu o maior preço dos últimos 25 anos.
Pode ser puro; adoçado; com leite. Não importa a forma como você escolhe tomar o café. Na hora de pagar, “fica bem amargo”, diz uma consumidora.
“Está caro, está bem caro. Realmente eu senti bastante diferença no preço. Eu sou assíduo, tomo bastante café, e que está bem caro está”, afirma o empresário Emerson Martins.
De um mês para o outro, o café moído aumentou 7% nas prateleiras do supermercado e, em um ano, 42%. E isso é uma média nacional. Para quem mora em Florianópolis, a capital com a cesta básica mais cara do país, o aumento foi de 62%.
Uma cafeteria está no mesmo ponto, num shopping, há 22 anos. Nos últimos seis meses, o cafezinho aumentou R$ 1. “Aumentamos 20%. Antes era R$ 5; foi para R$ 5,50; agora é R$ 6. E o nosso preço ainda está médio. Tem lugar cobrando mais”, conta o proprietário Tiago Mafra.
Uma lanchonete no comércio do Centro até tentou segurar o preço para não afastar o cliente, mas não teve jeito: passou de R$ 1 para R$ 1,50 este mês.
O Brasil é o maior produtor do mundo de café, mas vende no mercado interno a preço de exportação. Isso porque a saca do grão é cotada a partir do preço base na Bolsa de Valores de Nova York, que tem influência do dólar.
Em dezembro de 2020, era quase R$ 600. Agora, está em torno de R$ 800 mais cara. O clima também pesou no preço do café do brasileiro.
“2021 foi marcado pela escassez de chuva, um período de seca muito duro e prolongado. Isso prejudicou a produtividade dos cafezais, principalmente na região de Minas. No centro-sul, em julho, passamos por uma sequência de três geadas. Isso prejudicou ainda mais a produção de café. Resultado disso: olhando apenas pelo lado da oferta, chegou ao mercado um volume de café menor do que a gente estava imaginando, e olha que esse ano já seria mais fraco”, explica Felippe Serigati, economista da FGV Agro.
“E, a partir de março, quando tivermos mais esclarecido quanto vai ser a safra, o preço deve se estabilizar”, diz Celírio Inácio, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café.
E não é todo mundo que consegue sustentar esse aumento nos preços: “Eu faço um chá. Faço chá porque não dá, o café está muito caro, não dá”.
Mas tem aqueles que não abrem mão: “Quem gosta de café não deixa de tomar”.
Fonte: G1