Em Destaque · 18 outubro 2021

Empresários dizem que não conseguem repassar altas de energia, embalagens, gás e combustíveis para preços; margens de lucro caíram até 60% para micro e pequenos negócios

A inflação de itens essenciais para o funcionamento das empresas tem afetado diretamente os resultados dos pequenos negócios. Com o poder de compra do consumidor achatado, comerciantes garantem que não estão conseguindo repassar para os preços de seus produtos e serviços as sucessivas altas no custo de insumos como energia elétrica, combustíveis, gás e até embalagens. O resultado foi uma queda de até 60% nas margens de lucro das pequenas empresas.

Proprietária da marmitaria Empório do Frango, Paloma Soares diz que está trabalhando no limite hoje. Ela conta que, este ano, está pagando bem mais caro por vários insumos, começando pelas matérias-primas para a produção das marmitas, como arroz, óleo e carnes. Outras grandes pressões, segundo ela, estão vindo do gás de cozinha e do combustível usado para as entregas, que dobraram de preço desde o ano passado.

Paloma lembra que o custo das embalagens também já subiu mais de 30%. Mesmo com tantas altas, o último repasse para os preços das marmitas que vende, um reajuste de apenas R$ 2, aconteceu ainda no ano passado. “Boa parte dos nossos clientes também ganha pouco e não consegue pagar mais”, destaca. A consequência, segundo a micro empresária, foi uma queda de mais de 60% em sua margem de lucro. “Já tive até que dispensar funcionários. Na próxima semana, terei que subir um pouco meu preço. Caso contrário, não conseguirei mais trabalhar”, avisa.

André Luiz da Silva, proprietário do Empório Ponto Com, informa que os clientes reduziram as compras e deixaram de levar produtos com maior valor agregado, como um vidro de palmito ou de azeite. “Hoje, a maioria procura apenas o básico, mas não ganhamos dinheiro com produtos como arroz, feijão e óleo”, destaca. Com isso, sua margem de lucro teve uma forte redução, ao mesmo tempo em que seu custo operacional subiu muito. Um exemplo, segundo ele, foi a energia elétrica, que dobrou de preço. “Estou desligando todas as luzes à noite para tentar economizar. Antes, eu sempre deixava as lâmpadas da frente acesas”, conta o empresário, que chegou a vender seu próprio carro para não demitir funcionários.

Repasses

Os aumentos do gás de cozinha já inhacionaram muito os custos de produção nas panificadoras. O presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Estado (Sindipão), Marcos André Rodrigues de Siqueira, lembra que as empresas do segmento têm arcado com reajustes nos preços de vários insumos usados na produção. Mas, com o poder de compra da população reduzido, elas não conseguem repassar tudo isso para os preços de seus produtos, o que tem levado muitos negócios a sérias dificuldades.

“A saída para os menores tem sido demitir funcionários ou fechar as portas mesmo”, diz o presidente do Sindipão.

Os pequenos comerciantes reclamam que também tiveram seus custos muito elevados pelas medidas de combate à pandemia, como a exigência de manter funcionárias grávidas em casa, a compra de álcool em gel e termômetro para as lojas e a necessidade de manter um funcionário apenas para controlar a entrada de clientes nas lojas.

Nos açougues, além da disparada nos preços das carnes, outra grande pressão sobre os custos vem das contas de energia elétrica, pela necessidade de funcionamento de freezers e geladeiras por 24 horas. Mas o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas (Sindiaçougue), Sílvio Carlos Yassunaga, também lembra que houve um forte reajuste nos preços das embalagens, como papelão e plástico, de até 35%.

Pequenos negócios que não têm noções de gestão financeira acabam não repassando aumentos sucessivos num curto espaço de tempo. “O resultado é uma margem achatada, negócios inviabilizados e gente vendendo patrimônio construído em décadas para pagar frigoríficos”.

Para o presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Gilberto Soares, o maior vilão é o preço dos combustíveis, que exerce pressão sobre praticamente todos os custos, começando pelo transporte de mercadorias. Segundo ele, o custo da conta de energia também aumentou cerca de 80% por causa do calor e das bandeiras tarifárias. Outra pressão vem do custo das embalagens como sacolas plásticas, cuja unidade subiu de R$0, 05 para R$0,08. “Não temos como repassar todas as altas de custo para o consumidor, que já está com o bolso comprometido por causa da inflação. As vendas cairiam muito mais.”

Fonte: O Popular