A pandemia acentuou as desigualdades de consumo entre os brasileiros de maior e os de menor renda. De um lado, ficaram os protegidos, que mantiveram ou tiveram aumento de salário. Do lado mais fraco, estão aqueles que perderam rendimentos durante a pandemia de coronavírus.
Pesquisa realizada pela Nielsen identificou esses dois Brasis. Enquanto os protegidos consumiram mais no último ano, os desprotegidos tiveram de cortar gastos mesmo em um ambiente de alta de preços.
Os desprotegidos reduziram em 5% o volume de compras na comparação com 2019. A maior queda de consumo veio da categoria higiene e beleza, com redução de 49%. Entre os itens com maior diminuição de compra estão pasta de dente, colônias, cremes e loções.
“Pela pandemia e restrição de circulação, a população reduziu as idas ao supermercado, mas a cada ocasião levou mais. Essa movimentação não ‘se pagou’, pois esses lares reduziram em 5% seus gastos totais no ano”, diz Bruno Achkar, coordenador de atendimento ao varejo da Nielsen.
Enquanto isso, os chamados protegidos aumentaram em 2% seus gastos no ano passado. “Não há, necessariamente, um aumento da cesta de compras dos protegidos. Como tivemos uma inflação na casa dos 4% para 2020, o aumento foi muito um acompanhamento do aumento de preços”, afirma Achkar.
Como o consumidor reagiu ao aumento de preços?
Um fator que pesou na decisão de compra da população foi o aumento de preços dos produtos com alta frequência, caso dos alimentos e bebidas. Para driblar esse aumento, as pessoas mudaram o comportamento de compra.
De acordo com a pesquisa, 73% passaram a comprar somente o essencial, reduzindo os luxos e 46% adquiram produtos com descontos. Um terço mudou para marcas mais baratas, enquanto o percentual dos que compraram menos ficou em 16%.
Entre os itens com redução de compra estão aqueles que acumularam as maiores altas de preços, caso do óleo de soja, empanados, leite UHU e leite em pó.
O que os desprotegidos estão consumindo?
Um outro estudo, o Consumer Insights, produzido pela Kantar, dá algumas pistas sobre as diferenças de compra entre protegidos e desprotegidos. O mingau apareceu na lista de 8º prato que mais cresce nas ocasiões de consumo, principalmente entre as classes D e E.
De acordo com o levantamento, o mingau está fazendo as vezes de refeição no jantar (aumento de 8 pontos na penetração), no lanche da manhã (+3,9 pontos), na ceia (+2,8 pontos) e até mesmo na marmita (+1,9 ponto).
E a inflação das carnes?
Cada bolso reagiu de forma diferente à inflação das proteínas. Nos último 12 meses, a inflação das carnes acumula uma alta de 38%, segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
De acordo com o estudo da Kantar, as classes AB passaram a comprar mais carne de sol, enquanto a C, hambúrguer. Para as classes D e E, a opção foi ficar com a salsicha.
Dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) mostram que o brasileiro reduziu o consumo per capita de carne bovina, aumentando a de frango.
Consumo de carne bovina:
2019 – 30,6 kg / 2020 – 27,6 kg / 2021 – 26,4 kg
Consumo de carne suína:
2019 – 15,8 kg / 2020 – 15,3 kg / 2021 – 15,4 kg
Consumo de aves:
2019 – 46,4 kg / 2020 – 49,9 kg / 2021 – 49,7 kg
A vez da marmita
Outra mudança identificada pelo estudo foi o avanço das marmitas entre a população de menor renda. O motivo foi a necessidade de reduzir gastos com alimentação fora de casa.
Mas em vez de comida, as pessoas estão levando lanches frios para comer fora de casa. Por isso, a penetração do pão industrializado na cesta das classes D e E cresceu 11, o que equivale a mais de 6,2 milhões de novos lares comprando a categoria entre março de 2020 e o mesmo mês deste ano.
O presunto foi o recheio da vez, ganhando 14,8 pontos de penetração em relação ao mesmo período do ano passado, ou seja, um ganho de mais de 8,4 milhões de novos lares.
Fonte: Fabiana Futema, 6 Minutos